Divergências paralisam ação da CPI do Banestado

Brasília – A briga entre o PSDB e o PT paralisou a CPI do Banestado, que desde maio não consegue fazer uma reunião. O presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), troca acusações com o relator, deputado José Mentor (PT-SP). Paes de Barros diz que Mentor posterga decisões essenciais aos trabalhos da CPI. “Ele e o José Dirceu (ministro-chefe da Casa Civil) estão enganados se acham que mandam na CPI”, afirmou ontem Barros.

O relator, por sua vez, acusa Paes de Barros e o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM), de terem politizado a CPI em represália à descoberta de uma operação entre o Banco Central e o Banco Bilbao Viscaya, que tornou possível a venda do Excel-Econômico para o banco espanhol. “A ação deles é para desfocar a atenção desse caso”, retrucou Mentor.

Para Paes de Barros, o caso da operação do Banco Central com o Banco Bilbao Viscaya não teve a menor repercussão na imprensa porque “os jornais entenderam que a questão não tinha nada a ver com a remessa ilegal de recursos para o exterior, que é o objeto da CPI”.

Carta

Mentor responsabiliza o presidente da CPI por este não ter encaminhado até agora ao Uruguai a carta rogatória para que João Arcanjo Ribeiro seja ouvido. Arcanjo, apontado como chefe do crime organizado no Mato Grosso, teria participado da obtenção de fundos de campanha do PSDB naquele Estado.

Barros nega e diz que já mandou várias cartas rogatórias ao Uruguai e que elas retornam sempre com a mesma negativa do governo uruguaio. “O que não encaminhei ainda foi uma relação de perguntas feitas pelo Mentor, quando o Senado estava em recesso, pois julgo que os demais membros da CPI também têm o direito de acrescentar as perguntas que desejam fazer”, afirmou Paes de Barros.

Mentor culpa ainda o PSDB por ter tentado levar, com objetivos políticos, o “caso Santo André” para dentro da CPI do Banestado. O ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, foi assassinado por integrantes de suposto esquema de corrupção dentro da Prefeitura. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), apresentou um requerimento para a convocação do empresário Ronan Maria Pinto, dono de empresas de ônibus, e que estaria envolvido no caso Santo André. “O relator tenta obstruir toda coisa que pode envolver o PT”, diz Eduardo Paes.

Disputa é antiga

A acirrada disputa entre o PT e o PSDB na CPI do Banestado vem desde o momento de sua instalação. Em setembro de 2003, o líder tucano Arthur Virgílio pediu a convocação do então diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Augusto Candiota, e do presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, cujos nomes apareceram nos primeiros arquivos das contas CC 5, encaminhada pelo Banco Central à comissão do Banestado.

O relator não aceitou o pedido, sob o argumento de que não podia “pinçar” nomes na imensa relação de pessoas que remeteram dinheiro por meio das CC 5 e que ainda não dispunha de elementos que comprometessem Candiota e Casseb. Mentor alega também que não tem o poder de vetar requerimentos. “Eu apenas dou o meu parecer. Quem decide é o plenário da CPI”, observou.

Ao mesmo tempo que não concordou com a convocação de Candiota e Casseb, Mentor sugeriu a convocação de cinco diretores do Banco Central na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Embora tenha assinado os requerimentos de convocação, o PSDB não gostou e estranhou os critérios adotado pelo relator.

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