Greenhalgh com João Paulo |
Brasília – O PT comemora 25 anos no próximo dia 13, véspera da eleição do novo presidente da Câmara, enfrentando mais uma de suas crises internas. Dois petistas – Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), indicado pela bancada, e Virgílio Guimarães (MG), em candidatura avulsa – disputam a vaga, numa briga que poderá levar o governo a uma derrota histórica, prejudicando ainda a coesão da base aliada. Eles disputam a presidência da Câmara e o terceiro cargo na hierarquia da Presidência da República.
Azarão na disputa, porque não contava com a simpatia de líderes partidários nem de outros deputados da base aliada, Greenhalgh foi escolhido pela bancada do PT depois de dois dias de reuniões de debates, em dezembro. Inconformado com o processo e aproveitando-se da reação negativa dos outros partidos à escolha do PT, Virgílio rebelou-se e na semana passada formalizou sua candidatura avulsa afrontando o partido e o governo.
Além dos dois petistas, outros três deputados estão na disputa, como candidatos avulsos, mais para marcar posição política: José Carlos Aleluia (PFL-BA), Severino Cavalcanti (PP-PE) e Jair Bolsonaro (PP-RJ). O principal argumento de Virgílio para contrariar seu partido e o Planalto é que o PT já teve candidatos avulsos e que ele tem o direito de lançar mão deste instrumento. "O PT não tem qualquer resolução para coibir candidatura avulsa. Não sou candidato contra ninguém, estou oferecendo uma alternativa e vou dizer por que ela é melhor para o PT. Sou eu quem mais representa o espírito do PT dentro da Câmara", disse Virgílio no lançamento da candidatura.
Com a base dividida em torno da eleição dos novos dirigentes da Câmara, o grande desafio do PT e dos articuladores da campanha de Luiz Eduardo Greenhalgh será convencer os deputados de que somente a vitória do petista garantirá o fortalecimento dos partidos, o respeito aos acordos, à proporcionalidade e às regras de fidelidade partidária. Os governistas vão usar como argumento que Virgílio, ao se lançar de forma avulsa após renunciar à disputa, desrespeita a vontade da bancada, que, na semana passada, reforçou o apoio a Greenhalgh em documento assinado por 87 dos 90 deputados.
"Toda vez que um partido é desrespeitado na sua vontade coletiva, o Parlamento e as legendas ficam enfraquecidos", afirma Greenhalgh, negando o rótulo de que sua candidatura é chapa-branca ou determinada pelo Palácio do Planalto: "Fui escolhido por uma característica que a bancada reconheceu em mim: a independência. Não sou articulado com nenhuma tendência do PT. Vou ser presidente da Câmara mantendo a autonomia e independência do poder. Quero que a Câmara tenha relação harmoniosa com os demais poderes", disse ele.
Com uma agenda de viagens pelo país para contatos pessoais com deputados e governadores – que exercem grande influência nas bancadas estaduais na Câmara -, Greenhalgh tenta desfazer a imagem de que é sisudo e arrogante. Líderes aliados que apóiam o petista lembram que o processo sucessório na Câmara está no início e só será possível avaliar e mapear votos no início de fevereiro com a volta gradual dos parlamentares que estão de férias.
"Greenhalgh é garantia de sossêgo"
Sandra Cantarim Pacheco
O presidente da Câmara Federal, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que acompanhou o candidato à sua sucessão deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) ontem, durante sua passagem por Curitiba, destacou a importância do Paraná no diálogo que antecede essa disputada eleição: "Quem se propõe a ser presidente da Câmara precisa exercer o diálogo, e o diálogo é justamente a base da candidatura de Greenhalgh. Aqui, num dos principais Estados produtores do país, quero deixar bem claro que ele representa a tranquilidade para a produção, a tranquilidade no cenário político nacional, a garantia de sossêgo a quem queira produzir". A mensagem visa a forte bancada ruralista paranaense, onde se localizaria um foco de resistência ao candidato petista em função de sua atividade como advogado do MST e outros movimentos sociais.
Greenhalgh, que almoçou com parlamentares de vários partidos no Hotel Rayon, concordou que o presidente da Câmara é um magistrado e, como tal, saberá destinguir essa condição de seu papel de advogado de movimentos sociais: "Não vou apagar minha biografia, mas a função do presidente da Câmara é buscar a concórdia na Casa que é a representação de toda a sociedade brasileira. Posso garantir que não haverá discriminação a projetos que atendam interesses doa agricultores ou àqueles que tenham origem nas reivindicações dos movimentos sociais. Soberano é o plenário, e eu obedecerei cegamente à Constituição, o Regimento Interno e as decisões soberanas do plenário", prometeu.
Em campanha por todos os estados brasileiros, que começou há mais de uma semana, Greenhalgh veio buscar o apoio dos parlamentares paranaenses de todos os partidos. Foi recepcionado pelo vice-governador Orlando Pessuti (PMDB), que representou o governador Roberto Requião, em viagem pelo interior, pelos líderes do PMDB na Câmara, deputado José Borba, do PP, deputado José Janene, pelos presidentes estaduais do PTB, deputado ìris Simões, do PT, deputado André Vargas, do PC do B, Milton Alves, e do PSB, Severino Araújo, pelo prefeito de Londrina, Nedson Micheletti, além de um grande número de deputados federais e estaduais de seu partido. Não estavam presentes durante a entrevista os senadores Álvaro (PSDB) e Osmar Dias (PDT) nem Flávio Arns (PT).
Proposta do deputado é não mudar
O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh prometeu dar sequência ao trabalho do correligionário João paulo Cunha, "que abriu o Parlamento para a sociedade e se houve com transparência nas questões mais delicadas", e observou que a conjuntura no período que antecede as próximas eleições dependerá da marcha que o Congresso der aos projetos de amplo alcançe que lá se acham em tramitação. Prometeu buscar o equilíbrio na tramitação dos projetos de autoria do Legislativo e as Medidas Provisórias, e disse que está construindo sua vitória junto com todos os partidos.
Indagado sobre sua posição em relação a questões polêmicas, como os trangênicos, afirmou que "toda situação que transgride a legislação é perturbadora", mas ponderou que sua meta é "a paz no campo, a paz no Brasil e a paz no parlamento".
Quanto ao aumento dos subsídios dos deputados, principal bandeira de um de seus adversários na disputa pela presidência da Câmara, lembrou que a fixação de um teto para o poder legislativo é tema que se arrasta desde 1988 sem qualquer solução: "O assunto precisa ser enfrentado, porque cabe aos poderes estabelecer seus tetos salariais. Eu assumo o compromisso de tratar abertamente a questão se esse for o desejo dos deputados, mas não vejo isso como prioridade nem como problema emergencial".
Além do presidente da Câmara João Paulo Cunha, acompanharam o deputado paulista em sua visita ao Paraná o líder do Governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), o presidente da Comissão de Orçamento, deputado Paulo Bernardo (PT-PR), a deputada Neide Aparecida (PT-GO), e o tesoureiro do PT nacional, Delúbio Soares.