Ocupando um posto na diretoria da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) desde agosto do ano passado, o engenheiro Mário Rodrigues Júnior aparece nas delações da Odebrecht pedindo R$ 1,2 milhão sobre as obras do Rodoanel de São Paulo. A obra foi licitada em 2006, no governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
O dinheiro supostamente serviria para financiar campanhas eleitorais, segundo informou na delação o diretor Roberto Cumplido. Segundo o executivo, todas as construtoras que participaram da obra foram cobradas por Rodrigues, que na época era diretor de Engenharia da Dersa.
Foi com as credenciais de gestor de obras públicas que Rodrigues chegou governo federal por indicação do PR, segundo se comenta nos bastidores. Ocupou uma diretoria da ANTT entre 2008 e 2012. Depois, foi diretor da Valec, a empresa estatal responsável pela construção de ferrovias federais. Chegou à presidência da empresa de 2015 e lá ficou até agosto do ano passado, quando foi novamente indicado para a diretoria da agência reguladora.
A indicação para a ANTT precisa ser aprovada pela Comissão de Infraestrutura do Senado e depois pelo plenário da Casa. O parecer elaborado pelo senador Vicentinho Alves (PR-TO) diz que, pelo fato de Rodrigues presidir uma empresa (a Valec) que em tese é fiscalizada pela agência reguladora, poderia haver um conflito de interesses.
Mas o relator esclarece, com base num parecer da Controladoria Geral da União (CGU) enviado ao Ministério dos Transportes, que nesse caso específico não há óbice porque a Valec é apenas um braço construtor do ministério. Não é uma empresa que busca lucro, como é o padrão daquelas fiscalizadas pela ANTT. “Temos, nesse caso, uma concessão imprópria, sobre a qual não podem incidir todas as regras da relação público-privada em que este explora o serviço motivado pelo lucro”, diz o parecer.
Seu nome foi aprovado numa rápida reunião da Comissão de Infraestrutura do Senado, junto com outros indicados do Ministério dos Transportes. Seu mandato na ANTT vai até 2020.
Procurado, Mário Rodrigues Júnior informou que não comenta matérias que estão sob exame do Judiciário.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, negou qualquer irregularidade, por meio de nota. “Jamais pedi recursos irregulares em minha vida política, nem autorizei que o fizessem em meu nome. Jamais recebi um centavo ilícito. Da mesma forma, sempre exigi que minhas campanhas fossem feitas dentro da lei.”