O ex-ministro e deputado cassado José Dirceu participou ontem de um debate sobre integração no Fórum Social Mundial, em Caracas, e alertou o Mercosul da existência de uma "direita desestabilizadora" que "conspira" contra o bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Depois de ter sido cassado como deputado federal (PT) em dezembro passado, em meio ao escândalo do mensalão, Dirceu se afastou da cena pública, à qual retornou ontem em Caracas como em seus velhos tempos de líder estudantil.
Dirceu falou diante de cerca de 80 pessoas em uma tenda montada no Parque del Leste, tradicional área de lazer da capital venezuelana. Em seu discurso, disse que, contra os avanços do Mercosul, encontram-se setores de direita que querem torpedear o esforço integrador para, ao invés disso, defender interesses comerciais particulares.
"Na direita brasileira, por exemplo, há quem diga que no Mercosul há muita política", afirmou, para depois tachar de "hipócritas" a esses setores que, na sua opinião, conspiram para "deter a integração" sul-americana. Segundo Dirceu, a ascensão de Evo Morales à Presidência da Bolívia dá aos países sul-americanos uma nova dimensão política e complementará a sintonia política que existe entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; da Argentina, Néstor Kirchner; e da Venezuela, Hugo Chávez.
"É uma oportunidade única para trabalharmos a integração social, política, econômica, comercial e cultural da América do Sul, e que não pode ser desperdiçada", disse Dirceu, que acha o Mercosul um processo de emancipação.
O ex-ministro citou como exemplo de convergência política a resistência dos países do bloco à Área de Livre Comércio das Américas (Alca) proposta defendida por Washington, e disse que o Conselho de Defesa Sul-americano que se pretende criar é uma "iniciativa política histórica".