"Em quase duas horas em que respondeu ontem perguntas de jornalistas, o deputado José Dirceu (PT-SP) contestou o relatório que pede sua cassação ao Conselho de Ética, apresentado pelo relator do processo, deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Dirceu apresentou uma defesa de 22 páginas e disse que não existe nenhuma prova contra ele no documento. "Não está provada a existência de "mensalão’; as CPIs não concluíram os trabalhos", afirmou.
José Dirceu também rebateu a colocação de Delgado de que ele mandava no PT enquanto era ministro da Casa Civil. "Isso não é verdade, existem depoimentos claros, como o do ex-presidente do PT José Genoino e de outros, que garantem que, desde que deixei a direção do partido, não participei de qualquer decisão do PT." Ele também reafirmou não ter amizade com o empresário Marcos Valério de Souza.
Embora Dirceu tenha reconhecido que "o processo é político", pediu para que sejam observados os princípios jurídicos. Disse ainda que Delgado mal utilizou os argumentos no relatório. "Toda a acusação do relator fica desmontada porque, se são provas testemunhais, tem que usar todo o trecho do depoimento, e não pinçar partes, como fez o relator", apontou.
"Não estou desqualificando ou desmerecendo relatório do relator, estou contra-argumentando", disse o deputado. Para José Dirceu, Delgado usa jurisprudência falsa para sustentar a tese de que o deputado poderia ser cassado por atos praticados fora do exercício do mandato, como nos casos dos ex-deputados Hildebrando Pascoal, Talvane Albuquerque e Feres Nader.
"Os deputados-relatores desses processos usaram fatos ocorridos no exercício do mandato para fugir à controvérsia jurídica e são, de fato, completamente inaplicáveis ao presente caso", afirma José Dirceu, que também aponta falha do relator ao omitir partes dos depoimentos do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) e do ex-presidente do PT, José Genoino. "É preciso destacar que as diversas testemunhas ouvidas pelo Conselho de Ética afirmaram em seus depoimentos que seria inviável a minha atuação em atividades partidárias."
Por escrito, Dirceu também destacou que a quebra de seus sigilos telefônicos não apontam sequer uma ligação para o empresário Marcos Valério de Souza. Em entrevista à imprensa, o deputado petista fez outras críticas ao deputado Júlio Delgado, relator do seu processo. Para ele, o mesmo raciocínio utilizado por Delgado para dizer que seria "impossível" ele não ter conhecimento do suposto "mensalão" pode ser aplicado ao próprio relator.
"O deputado Júlio Delgado era o líder da bancada do PPS quando a suposta mesada a parlamentares foi citada pela primeira vez, pelo Jornal do Brasil, no final de setembro de 2004. Entre os líderes estava o deputado Miro Teixeira. O líder da bancada do PPS não sabia? Ou, se sabia, foi omisso? Mais ainda se teria o deputado Júlio Delgado quebrado o decoro parlamentar, pois, a exemplo do ex-deputado Roberto Jefferson, não denunciou o suposto esquema?", perguntou Dirceu.
Dirceu reafirmou que é inocente, que não aceita julgamento sem prova e que a disputa pela sua cassação é política. Segundo ele, o que está em jogo não é só o seu mandato, mas as "transformações sociais e econômicas que o País está vivendo no governo do presidente Lula". Independente do resultado do processo, ele diz que "continuará fazendo política, como cidadão."