Isolada

Dilma vai morar em um bairro que tem o nome de ‘Tristeza’

Foto: Agência Brasil.

Um apartamento de três quartos e 120 metros quadrados, em Porto Alegre, será o endereço de Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita presidente da República e deposta quase seis anos após subir a rampa do Palácio do Planalto, em 2011. É ali, no bairro de classe média com o sugestivo nome de Tristeza, que ela começará a escrever um livro para resgatar sua biografia e “disputar” a narrativa histórica do impeachment.

Dilma recebeu vários convites de editoras para contar os bastidores da crise política que a derrubou. Além disso, foi convidada a dar palestras até nos Estados Unidos sobre o cerco ao Planalto e o confronto com o Congresso. Sua intenção, por enquanto, é ficar no Brasil.

“Eu não vou descansar um minuto enquanto não mostrar que tudo isso foi uma fraude, um novo tipo de golpe, sem tanque e sem armas, para me tirar do poder”, disse a presidente cassada.

A retórica de Dilma, porém, contrasta com o seu isolamento político. Eleita pelo PT em 2010 sob o carimbo de “criatura” de Luiz Inácio Lula da Silva, ela foi se distanciando cada vez mais do partido e de seu padrinho, a ponto de ficar praticamente reclusa no Palácio da Alvorada. A antiga base aliada de seu governo se esfacelou e muitos a traíram.

Presa política na ditadura, integrante de organizações de extrema esquerda, Dilma sempre mostrou orgulho por nunca ter traído seus pares. “Isso significava a diferença entre a vida e a morte”, disse ela, em conversa com amigos. “Quando a gente é jovem tem uma alegria de viver que não encontra em outras circunstâncias. Tem hora que acho até que esqueci. Sabe aquela história de que a gente não sente a velhice chegar porque ela chega aos poucos?”, emendou.

Viagem. No início de 2017, Dilma pretende viajar para países da América Latina, como Chile e Uruguai. Quer fazer um retiro europeu, pela França e Inglaterra. No seu périplo, promete levar na bagagem a denúncia do “golpe”, que não sai de seu repertório desde que o então presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – hoje prestes a perder seu mandato de deputado federal – aceitou o pedido para sua deposição.

A petista não se ausentará do País por muito tempo. É na capital gaúcha que vivem o advogado Carlos Araújo, seu ex-marido, a filha Paula e os netos Gabriel e Guilherme.

Aos 68 anos, Dilma é apaixonada pelas duas crianças. “Neto é filho com assistência técnica”, costuma repetir. No Palácio da Alvorada, ela mora com a mãe, Dilma Jane, de 93 anos, que vai acompanhá-la a Porto Alegre, e com dois cachorros.

Levará apenas a dachshund Fafá. Herdado de José Dirceu – o ex-ministro que hoje está preso –, o labrador Nego, de 13 anos, permanecerá em Brasília.

Xodó de Dilma, a bicicleta da linha Specialized Expedition será despachada para o Sul. Há mais de um mês, ela tenta vender a moto vermelha Scooter, praticamente sem uso. “Sinto falta de andar na rua como uma pessoa qualquer”, contou Dilma.

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