Dilma vai encontrar clima de insatisfação em Cabrobó

A presidente Dilma Rousseff desembarca na tarde desta terça-feira (13) em Cabrobó, no sertão pernambucano, a 580 quilômetros do Recife, em meio a uma forte insatisfação local em relação ao governo federal. Frustrado na expectativa de ser um dos oradores no evento presidencial, o prefeito de oposição Auricélio Torres (PSB), foi informado que não haveria discursos na visita presidencial.

Ele iria aproveitar a oportunidade para fazer cobranças de promessas não cumpridas e reivindicar compensações para o município – ponto de captação do eixo norte das águas do Rio São Francisco a serem levadas até o reservatório de Jati (CE). Torres pretende, agora, tentar entregar à presidente um ofício com suas solicitações e cobranças. “O cerimonial quer que eu entregue a um intermediário”, afirmou, contrariado.

A primeira informação divulgada pela imprensa sobre a agenda da presidente em Cabrobó era de inauguração de uma estação elevatória. Depois foi definida como uma vistoria de obras. O horário também sofreu mudanças. Tanto que a agenda do governador de Pernambuco, João Lyra (PSB), divulgada no final da tarde desta segunda-feira (12), indicou sua presença às 15 horas em Cabrobó. À noite, o cerimonial da presidência informou que ela estaria no município às 14h30.

Na semana passada, Auricélio Torres esteve em Brasília, nos ministérios da Integração Nacional e das Cidades, para apresentar pleitos do município. “Pareceu uma ação orquestrada”, disse ele ao comentar que a viagem de nada valeu, pois nas duas pastas foi recebido por pessoas “sem poder de deliberação”. Ele entendeu a atitude como “retaliação política” por integrar o partido do presidenciável e adversário da presidente petista, Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco.

O prefeito quer compensações para o município que, devido às obras da transposição do São Francisco, contou com aumento na arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS). “Em 2013 tivemos arrecadação mensal de R$ 500 mil, o que representa um terço da folha do funcionalismo”, comentou, lembrando ter havido aumento na demanda por saúde, escolas e infraestrutura por conta do número de pessoas que passaram a viver na cidade devido às obras que, agora, se aproximam do seu término no local.

Caso os pleitos não sejam atendidos, ele ameaça reagir. “Sem contrapartida, não sai água”, garantiu Torres, que se disse disposto a mobilizar a população e os empresários para interromper a saída da água do canal da transposição quando a obra for concluída. Segundo ele, até 2010, “não havia nada da transposição em Cabrobó, mas desde 2012 a obra está de vento em popa”.

Um protesto popular pode ocorrer durante a visita da presidente. Organizado pelo funcionário público estadual e policial civil Elioenai Filho, ele prevê que poderá reunir cerca de 200 manifestantes para cobrar as promessas federais. Diante da rapidez da visita e do acesso ao local a ser vistoriado, a presidente poderá não ver a manifestação, mesmo que ela venha a ocorrer.

Esta é a segunda visita da presidente Dilma a Pernambuco em um período de um mês – depois que o ex-governador Eduardo Campos deixou o governo estadual para disputar a presidência da República. Ela havia passado um ano sem ir ao Estado, época em que Campos se afastou e depois rompeu com o governo federal.

Reivindicações

O canal da transposição do eixo norte vai passar por Cabrobó direto para a Paraíba e o Ceará. A prefeitura pleiteia um projeto de irrigação que atinja cerca de mil hectares do semiárido do município, além da extensão da Universidade do Vale do São Francisco com pelo menos dois cursos universitários no município, e habitações do programa Minha Casa, Minha Vida.

Sobre as promessas – antigas e recentes – não cumpridas, Auricélio Torres, apontou como recentes: convênio, assinado em 2011, com o Ministério da Integração, que previa quatro obras na área da reserva indígena Truká, que tem cerca de 4,5 mil habitantes; e a construção de cinco adutoras para atender a área rural com água captada no São Francisco, reduzindo a utilização de carros-pipas para o abastecimento (compromisso assumido pela pasta da Integração; somente uma adutora foi construída).

Entre as antigas, ele citou que, em 2005, época do governo Lula e do ex-ministro da Integração Ciro Gomes, foi anunciada uma obra de saneamento básico que contemplaria todo o município, com investimentos de R$ 6 milhões. “Somente 30% foram realizados”, afirmou, ao destacar também que, de 300 casas prometidas pelo governo federal em 2006, 185 foram entregues.

Outro Lado

O Ministério da Integração informou que “as adutoras do município de Cabrobó serão executadas dentro do programa básico ambiental que beneficia as comunidades rurais que vivem nas proximidades do projeto de integração do São Francisco”.

“A obra está na fase de elaboração do projeto executivo”, informou. “Já os projetos que tratam do saneamento básico do município foram entregues em abril pela prefeitura e estão em análise dentro do Ministério da Integração Nacional para liberação de recursos”.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna