Uma Dilma Rousseff sorridente e descontraída surpreendeu os convidados para a recepção em homenagem ao novo cardeal-arcebispo do Rio, D. Orani João Tempesta, no Palácio Caetani, residência do embaixador brasileiro na Santa Sé, Dênis Fontes de Souza Pinto, por volta das 20h20 do sábado (22). Em contraste com a fisionomia fechada e expressão tensa que exibiu em suas poucas aparições públicas testemunhadas por jornalistas que a acompanharam na viagem a Roma desde a sexta-feira, a presidente distribuiu cumprimentos e sorrisos, foi à cozinha saudar cozinheiros e garçons e até fez piadas. Uma delas teve como alvos o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) José Dias Toffoli e a calvície que já lhe faz rarear os cabelos. “Vai precisar fazer uma peruca, hein?”, brincou a presidente.
O comparecimento de Dilma à recepção foi um segredo muito bem guardado pelo Palácio do Planalto. Assessores não confirmaram, ao longo do dia, que a presidente fosse à festa, adiantando que à noite provavelmente ela teria uma “agenda privada”. Aparentemente, um dos poucos que sabiam com antecipação que a presidente compareceria era o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, com quem Dilma almoçara, após o Consistório Cardinalício na Basílica de São Pedro, no qual 19 sacerdotes, entre eles D. Orani, foram declarados cardeais. Pezão advertiu convidados que se preparavam para ir embora para que ficassem. “A Dilma está vindo aí”, confidenciou, segundo relato de um dos presentes ao Estado.
Na festa com cerca de 200 convidados – entre eles a ex-ministra do STF Ellen Gracie, o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, os deputados federais Alessandro Molon (PT-RJ) e Hugo Leal (PSC-RJ), o secretário da Casa Civil da prefeitura do Rio, Pedro Paulo, e cardeais brasileiros-, a presidente circulou pelos grupos, sempre sorrindo com simpatia. Conversou com Pezão, que chamou para acompanhá-la quando foi cumprimentar D. Orani, declarou-se “muito feliz” com a elevação do arcebispo do Rio de Janeiro a cardeal e se mostrou sempre bem humorada. Quando o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, deputado Paulo Melo (PMDB), lhe apresentou a mulher, Franciane Motta (PMDB), Dilma também brincou com ele. “Você agora está com juízo, né?”, provocou a presidente.
Houve discursos do embaixador Souza Pinto saudando o cardeal; do próprio D. Orani, agradecendo a homenagem; de Pezão. Às 20h50, Dilma foi embora para jantar com os ministros que a acompanharam na viagem. A descontração da presidente na festa foi bem diferente da sua postura na entrevista coletiva da véspera, após o encontro privado com o papa Francisco no Vaticano. Na ocasião, Dilma chamou pelo menos três vezes repórteres de “meu querido” ou “minha querida”, sinal que emite quando uma pergunta a irrita.
Hospedada no Palácio Pamphilij, sede da Embaixada do Brasil na Itália, na Piazza Navona, na área central da capital italiana, a presidente usou uma porta traseira, que dá acesso a uma rua estreita típica do centro histórico romano, para sair de carro da representação diplomática sem ser notada pelas equipes de reportagem que davam plantão de olho apenas na entrada principal. Enquanto assessores diziam aos jornalistas que a presidente não tinha compromisso, Dilma ia para o Parco Della Musica, onde assistiu, das 18h às 20 h, a Missa em Si Menor, de Johann Sebastian Bach, executada pela Orquestra Nacional da Accademia de Santa Cecília. Depois, foi para a homenagem a D. Orani.
Há cerca de um mês, uma “parada técnica” não anunciada do avião presidencial em Lisboa, em uma viagem entre a Suíça e Cuba, gerou polêmica, principalmente depois que foi divulgado que a presidente jantou no restaurante Eleven e se hospedou no Hotel Ritz, sem que essa agenda fosse divulgada previamente. Irritada, a presidente afirmou que pagara o jantar do seu bolso. A oposição pediu que fosse feita uma investigação do episódio e dos gastos que envolveu, mas a iniciativa acabou arquivada. Talvez pela controvérsia gerada nessa ocasião, a presidente tenha resolvido ficar na embaixada do Brasil em Roma.