A presidente afastada da República, Dilma Rousseff, demonstrou que a solução para a crise fiscal brasileira não é simples. Respondendo a uma pergunta da senadora Lúcia Vânia (PSB-GO), ela mostrou sua indignação com as cobranças dos parlamentares. “Se eu contingenciou, acabo com o programa fiscal; se não contingencio, é crime”.

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Em sua fala, a senadora reconheceu as conquistas do governo Dilma, mas disse que a petista não hesitou em atropelar os limites da legalidade na gestão financeira e do Orçamento. “A maquiagem das contas públicas resultou em aumento acentuado do endividamento público, causou perda de credibilidade do País, perda do grau de investimento, crise fiscal e da economia sem precedentes”, afirmou a senadora, 15ª inscrita a falar.

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A senadora disse ainda que a sociedade sofre as consequências da crise. “Fala-se que a recessão é consequência do cenário externo, da crise política, da Lava Jato. Eu não tenho dúvida de que esses elementos contribuíram, mas a ocultação de dívida de R$ 150 bilhões acumulada, em cenário adverso, foi responsável pelo desequilíbrio das contas públicas”, disse.

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Em sua resposta, Dilma disse que, em momentos de crise fiscal profunda, não se pode tentar fazer ajuste fiscal de curto prazo, com cortes de gastos. “Isso acentua o caráter pró-cíclico da queda do investimento. O que tem de se fazer é um ajuste de longo prazo, com reformas fiscais, e não tentar colocar um fator de queda maior ainda da arrecadação”, afirmou. Dilma disse que é preciso fazer política anti-cíclica e que foi assim que conseguiu registrar uma taxa de desemprego mínima no seu governo. “Tenho muito orgulho disso”.

A presidente relatou as discussões em torno das chamadas “pedalas fiscais” e disse que o governo pretendia quitá-las de forma parcelada, mas o risco jurídico disso era grande, então elas foram quitadas à vista em dezembro último. “Ficou acertado como se pagaria para o ano de 2015 para frente. Elas (as dívidas com os bancos) vencem de seis em seis meses, o banco apresenta o pagamento e o governo tem cinco dias para quitar”, apontou. Segundo ela, chegou-se a cogitar um pagamento diário desses repasses, “o que é inviável e insustentável”.

Dilma ressaltou que a meta de resultado primário é financeira, desde a implementação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e disse achar surpreendente que aqueles que defenderam a LRF agora abandonem esse critério de meta financeira.

Meta fiscal

A presidente afastada afirmou ainda que a meta de um déficit primário de R$ 170,5 bilhões este ano, estimada pela equipe do presidente interino Michel Temer, é superestimada. Segundo ela, na verdade o déficit seria de R$ 126 bilhões.

“Eles disseram isso (o déficit de R$ 170 bilhões) por um motivo muito simples. Caso se criminalize (questões de mudança orçamentária), a reação vai ser um afrouxamento do gasto, e aí sim explodem a dívida e a meta. A reação a situação de criminalizar isso e aquilo é que a meta de 170 bilhões é superestimada”, afirmou. Segundo ela, esse incentivo a metas superestimadas é péssimo para a recuperação da economia. “Na crise você tem de fazer duas coisas: se esforçar para ter orçamento e meta fiscal compatível e saber onde gastar. Essa postura de ‘liberou geral’ leva a gastos absolutamente insustentáveis”.

Respondendo a uma pergunta do senador Magno Malta (PR-ES), Dilma disse que não tinha bola de cristal para antecipar a realidade e que não mentiu no processo eleitoral de 2014. “Não se trata de uma relação de verdade ou mentira, é uma estimativa”, afirmou, citando a diferença entre as projeções para a economia em 2015 e o que de fato acabou ocorrendo. “Não se pode querer que só nós antecipássemos o tamanho crise que vinha pela frente”.

Dilma voltou a criticar o processo de impeachment baseado na edição de três decretos de crédito suplementar. “Até então, nem o Congresso nem o TCU disseram que não podia fazer o que nós fizemos”. Segundo ela, quando no meio do ano passado foi visto que não se conseguiria cumprir a meta, o governo diminuiu o esforço fiscal. “Ninguém tinha controle da queda da arrecadação. … Se não souber enfrentar a crise e buscar saída para ela, só vai aprofundar cada vez mais”, afirmou.