A presidente Dilma Rousseff quer acabar com os feudos dos partidos na Esplanada dos Ministérios ao anunciar sua equipe do segundo mandato, além de fortalecer a articulação política do Palácio do Planalto. Decidida a não deixar que as legendas transformem as vagas do primeiro escalão em “capitanias hereditárias”, que passam de um governo para outro, Dilma pretende fazer uma ampla troca de cadeiras na qual nem todos ficarão onde estão. O PT, hoje com 17 dos 39 assentos no Ministério, poderá ter seu espaço reduzido.

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Apoiada por uma coligação de nove partidos (PT, PMDB, PSD, PP, PR, PROS, PDT, PCdoB e PRB), a presidente sabe que enfrentará resistências na base aliada, mas avalia que tudo será resolvido com negociação caso a caso. Eleita com uma margem apertada de votos na disputa contra Aécio Neves (PSDB), Dilma tem uma “fatura” política a pagar e fará de tudo para evitar rebeliões e problemas com o Congresso. “Não é o momento nem a hora de discutir nomes do próximo governo. No tempo exato darei o nome e o perfil”, afirmou ontem a presidente em entrevista ao Jornal da Record. “Não vou discutir um ministro, mas um ministério.”

Auxiliares de Dilma, porém, dão como certo o “rodízio” dos partidos no comando de pastas, com prováveis “compensações” em diretorias de estatais. Ministérios como o dos Transportes, há anos com o PR, Cidades, nas mãos do PP, e Previdência, dirigidas pelo PMDB, podem entrar nesse remanejamento.

Kassab

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O PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab deverá ganhar mais uma vaga na equipe, mantendo a Secretaria da Micro e Pequena Empresa com Guilherme Afif Domingos. Apesar de filiado ao PSD, Afif entrou no governo, no ano passado, na cota pessoal de Dilma.

Na bolsa de apostas, o nome de Kassab é citado para ocupar o Ministério das Cidades, mas ele desconversa. “O PSD será governo, sim, mas não impôs qualquer condição ao declarar apoio à presidente e a escolha de ministros é uma decisão da presidente”, afirmou Kassab, derrotado na disputa pelo Senado.

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Núcleo duro

Na tentativa de driblar revoltas de aliados, que barrem votações importantes para o governo no Congresso, Dilma também quer reabilitar o chamado “núcleo duro” do Planalto para discutir semanalmente as estratégias do governo, principalmente na seara política. O grupo foi criado no primeiro mandato do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, e Dilma chegou a participar dele como ministra da Casa Civil. Aos poucos, porém, esse núcleo foi diluído.

O desejo da presidente é resgatar o modelo de uma Casa Civil mais política, como no tempo do então ministro Antonio Palocci – que caiu em 2011, no rastro do escândalo da multiplicação do patrimônio -, acompanhado de um núcleo que a assessore no dia a dia da relação com o Congresso. O grupo, porém, seria agora composto por ministros mais próximos dela, os chamados “dilmistas”.

Embora o nome do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, seja mencionado nos bastidores como candidato ao Ministério da Fazenda, é provável que ele permaneça no comando da Casa Civil como “capitão” do time. Antes mesmo do resultado das urnas, interlocutores de Dilma já diziam que, vencendo a eleição, ela procuraria um nome do mercado financeiro para o lugar de Guido Mantega, na tentativa de acalmar o setor e amenizar as incertezas dos investidores sobre os rumos da economia.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, pode ser deslocado para a Secretaria-Geral da Presidência, hoje ocupada por Gilberto Carvalho. Isolado no governo e homem da confiança de Lula, Carvalho assegurou que não ficará no segundo mandato de Dilma. Em conversas reservadas, ele tem dito que gostaria de ir para a Fundação Nacional do Índio (Funai). O governador da Bahia, Jaques Wagner, será levado para o governo e ajudará Dilma na articulação política, mas ela ainda estuda qual a melhor pasta para acomodar o petista. “Se a presidente me chamar eu vou, mas só digo que economia não é a minha praia”, disse ele, negando especulações de que possa ir para a Fazenda.

A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) conta com a simpatia de Dilma e é cotada para o Ministério da Agricultura, embora uma ala do PMDB queira agora emplacar o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), nessa vaga. Alves saiu derrotado da disputa pelo governo do Rio Grande do Norte.

Dilma também pretende convidar novamente Josué Gomes da Silva, da Coteminas, para a pasta de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No início deste ano, ele foi sondado para o cargo, mas recusou a oferta, sob a alegação de que tinha problemas para assumir o posto. Filho de José Alencar, que foi vice-presidente de Lula e morreu em 2011, Josué concorreu ao Senado por Minas, mas perdeu a eleição. O ex-ministro e secretário da Cultura de São Paulo, Juca Ferreira, pode voltar para a Esplanada, substituindo Marta Suplicy (PT) no ministério da Cultura. Marta voltará para o Senado, onde o PT perdeu espaço e precisa de parlamentares na linha de frente para enfrentar a oposição capitaneada pelo PSDB de Aécio Neves.

No Planalto, o comentário é que Dilma também não se esquece do gesto do governador do Ceará, Cid Gomes, que deixou o PSB e se filiou ao PROS para apoiar sua candidatura ao segundo mandato. Além disso, Cid lançou para sua sucessão o petista Camilo Santana, que acabou se elegendo governador. O nome de Cid é sempre citado para o Ministério da Educação, pasta comandada pelo PT desde o primeiro mandato de Lula. Até agora, porém, Cid tem dito que prefere representar o Brasil em alguma vaga no exterior.