O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto afirmou que “o melhor” para o crescimento do País e a democracia é a continuidade do governo Dilma Rousseff. “Mas isso exige que Dilma assuma o protagonismo” da situação econômica do País, a fim de trazer à sociedade “a esperança” de que o crescimento vai voltar. “Isso vai induzir os trabalhadores ao entendimento de que o risco de desemprego é menor. E essa esperança só pode ser dada pela Dilma”, disse.
“Não há menor esperança de ter equilíbrio fiscal sem a volta da esperança do crescimento”, ressaltou Delfim. Para ele, Dilma deveria ir ao Congresso e apresentar quatro ou cinco projetos que pudessem modificar problemas estruturais da economia. “É preciso que fixe um limite superior para a aposentadoria. Também é necessário que libere a livre negociação, como a proposta da CUT, entre trabalhadores e empresários, com a supervisão dos sindicatos”, comentou.
O ex-ministro destacou ainda que é fundamental acabar com vinculações de receitas, bem como acabar com a indexação de reajustes do salário mínimo, baseada a inflação passada. “Sem isso, não tem solução”, apontou. “Ninguém vai fazer ajuste e a inflação vai voltar para 4,5% só quando entendermos que é preciso uma coordenação muito melhor entre as políticas monetária e fiscal, bem como da administração da dívida pública.”
Delfim também destacou que a continuidade do governo Dilma até o final do seu mandato em 2018 é fundamental para a democracia. “A melhor coisa para o crescimento do Brasil é cumprir as instituições e os ditames da Constituição, Só isso permite crescer de 1% a 2% por 10 anos”, afirmou.
Desarranjo fiscal
O ex-ministro avalia que a presidente Dilma “se perdeu em 2012, quando tinha 92% de aprovação da sociedade”. Para ele, com a alta popularidade, Dilma avaliou que poderia fazer várias mudanças na economia, como “controlar a taxa de juros arbitrariamente e fazer um movimento na área de energia que foi um desastre”. “Em 2014, ocorreu desarranjo fiscal, que levou o déficit nominal de 3% para perto de 7% do PIB, para se eleger”, afirmou.
Na avaliação do ex-ministro, não há justificativa para um impeachment da presidente baseado no adiamento do pagamento de despesas pelo governo, o que é conhecido como pedalada fiscal. “Se tivesse acontecido um desvio de conduta, não há o menor problema. Mas não da forma como está sendo colocado”, disse.
“As pedaladas existiram, sempre existiram, feitas pelos Estados, municípios e União”, acrescentou. Delfim classificou a tese de impedimento em tais circunstâncias de “tapetão inventado.”
“O Brasil não é uma pastelaria, é uma nação civilizada. Durar este governo até 2018 é um processo didático. É aprender que voto tem consequência”, disse.
Para o ex-ministro, a Operação Lava Jato é positiva para a sociedade, especialmente para a gestão das empresas privadas. “É um ponto de inflexão, que vai mudar tudo, inclusive o setor privado. Ela mostra que existe o compliance. E isso já mudou na administração de todas as empresas”, afirmou.
Delfim também defendeu a Constituição de 1988, avaliando que ela tornou o Brasil mais justo. “Saúde e educação são para todos e pagas por todos”, disse.
O ex-ministro se mostrou ainda otimista com o Brasil. “Eu há 60 anos enfrento crises e causei algumas delas”, disse. “Um sujeito de 88 anos pessimista seria um idiota”, concluiu.