A presidente tentou manter sua rotina normal na manhã deste domingo (17), dia em que a Câmara vota a abertura do processo de impeachment do seu governo. Apesar de mais tarde que o habitual, Dilma saiu do Palácio da Alvorada por volta das 7h40 para a sua pedalada matinal, acompanhada por dois seguranças. Normalmente, a presidente sai para seu exercício todas as manhãs antes mesmo das 6h.

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Vestida com uma roupa de ginástica em que a cor vermelha era predominante, Dilma pedalou fora do Alvorada por apenas 15 minutos. Ela também mudou o percurso e seguiu pela via em direção ao Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência, voltando pelo mesmo caminho.

A presidente apenas deu bom dia para a imprensa e mostrou-se um pouco irritada com a proximidade dos jornalistas que tentavam acompanhar o trajeto. Foi possível observar que, ao retornar ao Alvorada, Dilma ainda deu uma volta de bicicleta dentro dos limites do Palácio. A agenda oficial da presidente neste domingo não prevê compromissos e nem mesmo a agenda de segunda-feira foi divulgada.

Demora pra reagir

Dilma Rousseff enfrentará neste domingo a mais importante batalha de sua vida sem saber se conseguirá sobreviver, mas convencida de que o seu maior erro não foi enveredar pelo caminho do ajuste nem subestimar o desgaste da Operação Lava Jato ou autorizar manobras conhecidas como pedaladas fiscais. Dilma se penitencia pela demora em reagir à “conspiração” dentro do Palácio do Planalto – promovida, no seu diagnóstico, pelo vice-presidente Michel Temer – e por ter se distanciado de seu “criador”, Luiz Inácio Lula da Silva.

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Isolada, sem ouvir quase ninguém, a primeira mulher eleita presidente do Brasil viu a crise política crescer dia após dia, mas nunca acreditou que ela pudesse fugir do controle. Nesse outono de intrigas, traições e fuga de aliados, puxada pelo PMDB, o governo, muitas vezes, pareceu atordoado e sem saber para onde ir. “A vida é mais complexa do que parece”, costuma dizer Dilma, desde que sua popularidade despencou.

A senha para uma ofensiva mais dura contra a ameaça do impeachment foi dada pelo próprio Lula, em 4 de março. Naquele dia, o ex-presidente foi obrigado a depor, no âmbito da Lava Jato, e a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão em sua casa e no Instituto Lula.

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A cúpula do PT, em rota de colisão com Dilma, temeu a prisão de seu maior líder. Foi a partir daí que a narrativa do “golpe” e da associação de Temer com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – réu em ação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, acusado de desviar recursos da Petrobrás -, ganhou força como estratégia de sobrevivência política de Dilma, de Lula e do PT.

“Se a gente não se mexer, vai acabar morrendo”, disse Lula após sair do depoimento, em conversa a portas fechadas com dirigentes do PT, em São Paulo. Dois interlocutores do ex-presidente contaram ao jornal O Estado de S. Paulo que ele se arrependeu de não ter tentado um acordo com Dilma para ser candidato, em 2014. Já àquela época, temia que sua afilhada, mesmo ganhando, não conseguisse governar.

“Vocês podem não gostar dela, mas é o nosso projeto que está em jogo. Não podemos sair das ruas. Precisamos defender a Dilma”, insistiu Lula, na sede do PT.