Antes de tentar chegar às escondidas em Lisboa, no sábado, 25, a presidente Dilma Rousseff já havia repetido em pelo menos seis ocasiões a estratégia de conciliar agendas oficiais com “escapadas”. Em três delas, a visita-relâmpago não foi comunicada na agenda oficial divulgada pela Presidência da República: as viagens para Granada, Marrakech e Agra não constam nos registros oficiais.
Em março de 2012, a presidente fez uma escala sigilosa em Granada, na Espanha, antes de chegar a Nova Délhi, na Índia, para participar da Cúpula dos Brics. A agenda oficial de 25 de março informava que a presidente estava de partida para a Índia, mas a chegada à Nova Délhi só apareceu na agenda do dia 27 de março.
A página oficial da Presidência da República não registra a agenda do dia 26. Nesse intervalo, Dilma foi a Granada, caminhou ao lado de turistas na rua e visitou o Palácio de Alhambra, acompanhada do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e do então chanceler Antonio Patriota.
Dias antes da visita-relâmpago a Granada, a presidente havia parado em Porto, em Portugal, antes de seguir rumo a Alemanha por ocasião da Feira Internacional das Tecnologias da Informação e das Comunicações (CeBIT 2012).
Dilma fez questão de ir comer o bacalhau do restaurante Terra, que depois batizou o prato de “bacalhau à Dilma”. Assim como em Lisboa, tirou foto com o chef – daquela vez, no entanto, a “escala técnica” foi divulgada pelo Planalto com antecedência.
Conforme informou o jornal O Estado de S.Paulo, o governo português foi comunicado da ida de Dilma a Lisboa na última quinta-feira, dois dias antes de a comitiva brasileira deixar a Suíça. A passagem de Dilma em Lisboa, no entanto, só passou a constar da agenda oficial às 13h50 de domingo, horário de Brasília, quase 24 horas depois de a presidente chegar à capital portuguesa. Naquela hora, a presidente já tinha decolado em direção a Havana.
Outra escapada de Dilma que não foi comunicada na agenda oficial ocorreu em 15 de dezembro de 2012, quando a presidente incluiu no roteiro uma parada em Marrakech, no Marrocos, no meio de uma viagem entre Moscou e Fortaleza.
A presidente estava acompanha da filha, Paula, e de ministros no Marrocos. Visitou a Medina, caminhou por uma praça central e encerrou a visita em um hotel de luxo, onde recebeu um chá tradicional de boas-vindas.
Em abril de 2011, quando viajava para a China, a presidente aproveitou a escala em Atenas, na Grécia, para visitar uma das sete maravilhas do mundo. Dilma passeou pela cidade e foi assediada por turistas, tirou fotos e deu autógrafos, mas se irritou com a presença de jornalistas que tentavam acompanhar sua visita. Neste caso, no entanto, a agenda oficial citava a escala.
A mesma coisa aconteceu em outubro de 2011. Dilma desembarcou em Bruxelas para participar da reunião do Brasil com União Europeia e, de lá, seguiu para Sofia, na Bulgária. Na volta, foi para Ancara, na Turquia, participar de um fórum empresarial e, ao final do encontro, embarcou para Istambul, onde também fez turismo.
Em 30 de março de 2012, mais uma vez Dilma saiu para um “compromisso privado”, se deslocando por mais de 200 quilômetros para Agra, onde passeou no Taj Mahal, um dos mais conhecidos monumentos da Índia. A atração foi fechada por duas horas para receber a presidente e sua comitiva, deixando uma longa fila de turistas à espera. A visita-relâmpago nunca entrou na agenda oficial da presidente.