Primeira mulher eleita presidente do Brasil, Dilma Rousseff (PT), fez ontem um discurso de conciliação nacional, prometeu respeitar as diferenças partidárias e religiosas, zelar pela “mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa” e combater a corrupção.
Em seu primeiro pronunciamento logo após o resultado das urnas, Dilma ficou com a voz embargada e não conteve o choro. Ao pregar a união do País, mesmo nas divergências, ela adotou tom semelhante ao do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político.
Além de agradecer os votos recebidos, Dilma também fez um aceno aos partidos de oposição e aos eleitores que votaram no adversário José Serra (PSDB). “Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio”, afirmou. Não foi só: disse que não aceitará irregularidades na administração pública.
Dilma chegou ao auditório do hotel Naoum para fazer seu primeiro pronunciamento como presidente eleita acompanhada do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, cotado para ser o homem forte de seu governo. Foi cumprimentada por ministros, governadores e senadores eleitos de partidos da base aliada.
O vice-presidente eleito Michel Temer (PMDB) subiu ao palco cinco minutos depois. Todos cantaram o Hino Nacional. No Palácio da Alvorada, Lula disse para Dilma que ela foi uma “guerreira”.
Aplaudida pela plateia, Dilma afirmou, ainda, que seu governo continuará defendendo a abertura das relações comerciais e o fim do protecionismo dos países ricos. Destacou, no entanto, que não pretende fechar o País ao mundo. “Teremos grandes responsabilidades num mundo que enfrenta ainda os efeitos de uma crise financeira de grandes proporções e que se socorre de mecanismos nem sempre adequados, nem sempre equilibrados, para a retomada do crescimento.”
Emoção
Dona de temperamento forte e conhecida como dama de ferro, Dilma não conteve a emoção e embargou a voz em alguns momentos, especialmente ao falar de Lula. Fez um chamamento aos empresários, às igrejas, governadores, prefeitos e “todas as pessoas de bem” para se unir pela erradicação da miséria – compromisso assumido ainda no primeiro mandato de Lula – e disse que essa “ambiciosa meta” não será realizada apenas pela vontade do governo.
“Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte”, afirmou Dilma.
A presidente eleita deixou claro no discurso após a confirmação da vitória que não vai se esquecer do presidente Lula, o grande responsável por ter vencido a eleição, e que sempre vai recorrer a ele quando se encontrar em dificuldades.
“Baterei muito à sua porta e, tenho certeza, a encontrarei sempre aberta”, afirmou. Para ela, é muito bom ter Lula ao lado. “Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda.”