Senado

Dilma classifica de ridícula a acusação do impeachment

A presidente Dilma Rousseff classificou como “ridícula” a acusação que está sendo feita contra ela e que é a base do processo de impeachment em julgamento pelo Senado. “Tenho clareza de que é ridícula a acusação. O que fizemos foi garantir programas sociais, o plano safra e investimentos para a indústria”, desabafou a presidente, que voltou a dizer que “há, de fato, um processo em curso, e esse processo tem um nome: é golpe. É uma nova eleição indireta coberta com o manto do impeachment, eleição indireta daqueles que não tiveram votos nas urnas, nas eleições de 2014”.

Repetindo com os mesmos exemplos do novo formato da defesa apresentada na manhã desta sexta-feira, 29, pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, na comissão especial que analisa seu impeachment no Senado, a presidente Dilma deu uma explicação didática sobre a assinatura de decretos de suplementação de recursos e as pedaladas. O tema foi discutido entre os dois em reunião na tarde desta quinta-feira.

“É igual quando você vai ao supermercado com uma lista para comprar os produtos que precisa e você tem R$ 100, que é como se fosse o orçamento do País. Só que aí, no meio da compra, você muda a sua lista, e diz que não quer mais dois quilos de feijão, só um e vai comprar também açúcar, que não estava na lista”, justificou, dizendo que foi isso que o governo fez, “você tirou de um lugar e pôs em outro”. Explicou também o uso dos bancos públicos para fazer “transferência de renda para os programas sociais” nos Estados, ressalvando que, ao longo dos anos, essa diferença sempre foi positiva, ou seja, a União nunca ficou devendo aos bancos. “O governo não tem caixa em cada Estado, por isso contratamos serviços da Caixa Econômica Federal, por exemplo”, disse Dilma, que citou até pedidos de “transferência de recursos” feitos pelo Tribunal Superior Eleitoral, para mostrar que atendeu até mesmo outros poderes nestas operações.

O novo discurso em defesa do seu mandato foi feito no Palácio do Planalto que, mais uma vez foi transformado em palco de apoio à presidente, na cerimônia da prorrogação da contratação de profissionais estrangeiros para o Programa Mais Médicos. Embora a cerimônia estivesse esvaziada em relação às anteriores, a claque presente interrompeu Dilma várias vezes gritando elogios à presidente, fazendo citações a “golpe” e “Fora Cunha”, numa referência ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A presidente voltou a alfinetar Cunha, afirmando que “as acusações contra ela não são sobre contas no exterior”.

Em outro trecho de sua fala, a presidente mencionou várias vezes o termo “meias verdades” para falar sobre o processo de impeachment. Voltou a dizer também que “é preciso haver crime de responsabilidade” e, “se não houver, o processo é um golpe”. Voltou ainda a lembrar que não só ela, mas todos os governos fizeram pedaladas. “Os fatos que me acusam foram praticados pelos governos que me antecederam e nenhum desses atos foram considerados criminosos pelos governos que me antecederam e também pelo meu governo nos anos 2011, 2012, 2013.”

Em seu discurso, a presidente fez questão de dizer que as medidas que estão sendo tomadas por ela, como o Mais Médicos, “vão beneficiar a população imediatamente”. E justificou: “estamos de olho no interesse da população”. De acordo com ela, os pouco mais de 7 mil médicos que chegaram ao Brasil na primeira etapa do programa teriam de encerrar suas atividades no País em agosto. “Estamos agindo preventivamente para que a população continue sendo atendida”, disse ela, a informar que era “justo” assinar a Medida Provisória, que provavelmente será examinada já sob o governo do vice-presidente Michel Temer, se o impeachment for aprovado até dia 11 de maio, como está previsto.

Dilma defendeu ainda a necessidade de “importar” médicos cubanos para atuar no País e agradeceu o apoio deles que, em sua avaliação, “foram aqueles que vieram na primeira hora a nos ajudar aqui no Brasil”. Agradeceu ao governo cubano pela parceria e a Organização Pan-Americana de Saúde, acrescentando que “sem a Opas teria imensa dificuldade em fazer o programa Mais Médicos”. Dilma afirmou que para fazer o programa foi necessário coragem e que, antes do lançamento, foi diversas vezes questionada sobre as consequências que a medida teria para o País.

Antes de encerrar o discurso, Dilma afirmou que a sua luta não é apenas para preservar o mandato. “A luta é para garantir e preservar conquistas históricas da população brasileira, como o Mais Médicos e o SUS, e para garantir que a democracia tenha um sentido substantivo”, disse. “Tenho certeza de que ferimento à democracia está sendo praticado neste momento. Temos de ter ciência disso. Para o presente e para o futuro. A democracia será sempre o lado certo da história”, completou.

Os ministros e secretários que participaram da cerimônia também fizeram discursos altamente políticos, nos quais defenderam a presidente Dilma. O ministro interino da Saúde, Agenor Álvares, disse que “só um governo legitimamente eleito pela população teria coragem de enfrentar esses problemas (para instalar Mais Médicos)”. O secretário de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Heider Pinto, por sua vez, citou que “a sociedade brasileira estava ameaçada por um golpe” e que somente a presidente Dilma, por ter sido “eleita diretamente pelo povo, teve coragem de lançar o programa”. Segundo ele, a população “não aceitará retrocessos”. “Os 65 milhões de atendidos não aceitarão o fim do programa.”

O presidente da Frente Nacional de Prefeitos, Márcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte, do PSB, no entanto, fez um discurso mais sóbrio. Ele se limitou a elogiar o programa, lembrando que mais de 700 municípios não possuíam médicos.

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