Na tentativa de recompor sua base de apoio no Congresso depois da derrota que sofreu na eleição para a presidência da Câmara, a presidente Dilma Rousseff cedeu à pressão dos partidos e aceitou que eles indiquem os dirigentes de estatais e autarquias e outros órgãos ligados aos ministérios que dirigem. No jargão político, esse tipo de ocupação de espaço é chamado de “ministério com porteira fechada”. As empresas disputadas têm orçamento de R$ 105,7 bilhões para este ano. Todos os presidentes dos dez partidos que ocupam espaço na Esplanada dos Ministérios já foram avisados da decisão da presidente.

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De acordo com informações de bastidores do governo, Dilma pediu aos dirigentes partidários que se entendam e não queiram invadir o espaço do outro. Quando isso ocorrer, eles deverão levar até o Planalto a lista com os nomes dos indicados para os cargos de segundo e terceiro escalões. A Casa Civil fará, então, uma triagem entre as escolhas técnicas e políticas para depois anunciar os nomes dos contemplados com os cargos.

Mesmo com a recomendações da presidente Dilma Rousseff para que os partidos se entendam e respeitem o espaço dos outros, há disputa entre eles pelo controle de órgãos considerados importantes para a visibilidade das legendas. É o caso do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). O PMDB, tendo à frente o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (RN), lutam para manter Walter Sousa à frente da autarquia. O PP, que controla o Ministério da Integração Nacional, exige nomear para a diretoria-geral do Dnocs o ex-deputado Paulo Henrique Lustosa, do Ceará.

O PP perdeu o Ministério das Cidades para o PSD de Gilberto Kassab e foi um dos primeiros a exigir a compensação da “porteira fechada” à presidente Dilma Rousseff. Para dar o recado, o partido apoiou a candidatura do peemedebista Eduardo Cunha contra o candidato oficial, o petista Arlindo Chinaglia (SP). Como Dilma saiu derrotada na eleição da Câmara, ela não perdeu tempo e mandou dizer ao presidente da legenda, senador Ciro Nogueira (PI), que atenderá às reivindicações do partido. O PP quer ainda as presidências da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) e Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

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A choradeira pela perda de espaços é grande também na tendência petista Construindo um Novo Brasil (CNB), à qual pertencem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), condenado no processo do mensalão. Por ter recebido poucos ministérios, a CNB exige da presidente Dilma Rousseff a nomeação de seus integrantes para cargos nas estatais. Um deles é a ex-ministra Miriam Belchior, que perdeu o Ministério do Planejamento. Os petistas querem que ela seja nomeada para a presidência da Caixa Econômica Federal. Outro é o ex-deputado Roberto Carlos Braga, que disputou e perdeu o governo do Espírito Santo. Dilma já recebeu da ala petista o pedido para que ele seja nomeado para a Companhia Docas do Estado (Codesa).

O critério da “porteira fechada”, porém, terá exceção. Dilma especificou que em casos específicos a escolha será dela própria, assim como aconteceu com alguns ministérios. Um exemplo é a Agricultura, entregue à senadora Kátia Abreu (TO) à revelia do PMDB. É o caso também dos dirigentes de empresas tidas como estratégicas, como a Eletrobrás e a Eletronorte, reivindicadas pelo PMDB. E da Petrobras, envolvida em escândalos w que até agora não despertou a cobiça de nenhum partido. Dilma deverá escolher também os dirigentes da Hidrelétrica de Itaipu.

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