A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Corrupção foi instalada hoje na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Durante os próximos 120 dias, os 12 deputados estaduais nomeados pelas bancadas para os trabalhos vão investigar se agentes públicos do Executivo foram operadores, intermediários ou beneficiários da fraude que desviou R$ 44 milhões do Detran entre 2003 e 2007 ou de irregularidades em licitações de merenda escolar, serviços e obras públicas nos 14 inquéritos ainda sigilosos decorrentes da Operação Solidária, da Polícia Federal. A primeira reunião está marcada para a próxima segunda-feira.
O requerimento para a criação da CPI, proposto pela bancada do PT, de oposição, circulava na Assembleia desde maio, com apenas 17 das 19 assinaturas necessárias à aprovação. A situação mudou no dia 5 de agosto, quando seis procuradores da República anunciaram que estavam movendo ação civil de improbidade administrativa contra a governadora Yeda Crusius (PSDB) e outros oito réus. No dia seguinte, o pedido foi protocolado com 39 adesões.
Apesar do desconforto, o governo e seus aliados iniciam o trabalho em condições de impor suas vontades, bloquear requerimentos, blindar personagens e aprovar o relatório do deputado Coffy Rodrigues (PSDB), um dos mais ardorosos defensores do governo Yeda na Assembleia. Tudo graças à vantagem que têm na Casa, de 33 votos num universo de 55.
A proporção foi mantida na CPI. Os governistas contam com oito cadeiras contra quatro da oposição. E se mostram dispostos a fazer a diferença valer, sobretudo para evitar a convocação, para depoimentos, de pessoas próximas à governadora, como o marido Carlos Crusius, o ex-secretário-geral de governo Delson Martini, a assessora especial Walna Vilarins Meneses e o chefe de gabinete Ricardo Lied, e também de adversários como o vice-governador Paulo Feijó (DEM), para não dar chance a ele de desferir algum ataque contra Yeda.
“Não vamos blindar ninguém, mas também não vamos deixar que a oposição faça sensacionalismo”, diz o deputado tucano Adilson Troca. “Chamar quem já está denunciado só interessa à disputa política e não ao esclarecimento dos fatos”, complementa, dando a entender que a maioria dos requerimentos que a oposição vai apresentar tende a ser rejeitada, por buscar pessoas já acusadas de alguma irregularidade pelo Ministério Público Federal.
A presidente da CPI, Stela Farias (PT), admite que a oposição vai enfrentar um bloqueio, mas acredita que os defensores do governo terão de se curvar às informações que surgirão à medida em que os deputados tiverem acesso a processos no Tribunal de Contas do Estado, na Procuradoria-Geral da República, no Ministério Público Federal e na Justiça Federal. “Eles podem obstaculizar uma ou duas vezes, mas não resistirão à força dos fatos”, afirma.