O clima esquentou na reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte Coletivo, ontem, na Câmara de Curitiba. A pauta de discussão era a composição da tarifa, mas denúncia envolvendo o advogado que representa o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) tumultuou a reunião. Convidada pelo vereador Chico do Uberaba (PMN) a participar da sessão, a deputada distrital Celina Leão (PSD-DF) acusou nominalmente o advogado Sacha Reck, representante das empresas de transporte coletivo do consórcio de Curitiba, de cometer irregularidades na licitação no Distrito Federal. De acordo com ela, Reck teria ajudado uma empresa da capital paranaense com problemas na documentação a vencer a licitação mesmo atuando como consultor na elaboração da concorrência. Ela usou o termo “pilantropia” e classificou o advogado como laranja.
“O advogado Sacha Reck foi consultor, é oficial, ele está em todos os autos habilitando ou desabilitando os empresários que participaram. Nossa licitação (no Distrito Federal) está toda contaminada. As tarifas que ganharam foram as tarifas cheias (com os valores mais caros das passagens) e todos eram clientes do advogado Sacha Reck”, afirmou Celina, que entre outras supostas irregularidades aponta a Viação Marechal, com sede em Curitiba, de ter ganho a licitação mesmo portando o CNPJ baixado e embasada em certidão emitida pela Urbs.
Defesa
A apresentação da denúncia tumultuou a sessão, especialmente entre os empresários que acompanharam a reunião e se manifestaram a favor do advogado. Reck se defendeu das acusações ao afirmar que não existe nenhuma irregularidade nos pareceres que proferiu na licitação do Distrito Federal. “Não assessorei empresas na licitação de Brasília. Assessorei o governo do Distrito Federal através de contrato assinado com o Banco Interamericano do Desenvolvimento”, disse. Ele afirmou ainda que não prestou consultoria simultaneamente para governo e empresas.
Promessa de investigação
O presidente da CPI, vereador Jorge Bernardi, classificou como grave as acusações e informou que todas as denúncias serão investigadas. “Ouvimos os dois lados, vamos examinar os documentos e se houver irregularidades vamos encaminhar aos órgãos competentes, que pode ser a Justiça Federal, a Polícia Federal ou o Ministério Público. Tudo será investigado”, garantiu. Por meio da assessoria de imprensa, a Urbs informou que só irá se manifestar sobre o assunto depois de tomar conhecimento das denúncias.
Antes de ser acusado sobre as irregularidades no Distrito Federal, o advogado Sacha Reck prestou depoimento à CPI como representante da Setransp. Ele falou principalmente sobre os custos do sistema de bilhetagem eletrônica, classificado como absurdo. O serviço atual custa R$ 720 mil e é prestado pela empresa Dataprom, que tem contrato com a prefeitura. O serviço anterior custava R$ 210 mil. De acordo com o advogado, as empresas do sistema de transporte se viram obrigadas a escolher pelo contrato mais caro devido ao “protecionismo da tecnologia” por parte da Datapron. Pelos cálculos da CPI, a diferença representa R$ 0,02 na tarifa. “Mas em 300 milhões de tarifas representa R$ 6 milhões a mais”, observa Bernardi.