Política

DEM busca rumo fora do bolsonarismo

Uma ampla pesquisa para saber o que o eleitor pensa do País, com suas expectativas, queixas, hábitos, costumes e preferências, está em andamento desde o mês passado e só deve sair do forno depois do carnaval, em fevereiro de 2020. A radiografia que servirá de bússola para indicar o rumo político, porém, não foi encomendada pelo governo de Jair Bolsonaro, mas, sim, por um partido de centro-direita: o DEM.

A dez meses das eleições municipais e a mais de dois anos da sucessão presidencial, a sigla capitaneada por ACM Neto, prefeito de Salvador, já se prepara para os próximos embates com uma série de levantamentos periódicos, na tentativa de identificar o que o eleitorado deseja. Além disso, as negociações para a fusão do DEM com o que sobrou do PSL, legenda pela qual o presidente Bolsonaro foi eleito, estão mais avançadas do que dizem seus dirigentes.

O casamento enfrenta resistências regionais dos dois lados, mas, mesmo assim, tem chance de ser sacramentado. A ideia é desbancar o novo partido de Bolsonaro, Aliança pelo Brasil, em fase de construção. Nos bastidores do Congresso, muitos deputados e senadores avaliam que, com o apoio de evangélicos e de empresários, o “Aliança” tem potencial para provocar uma debandada nas fileiras de outras siglas e reeleger o presidente, em 2022, desde que o desemprego caia e a economia dê sinais consistentes de recuperação.

Diante de um cenário polarizado entre Bolsonaro, de um lado, e o PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de outro, políticos do chamado “centro liberal” têm se reunido com frequência e avaliado pesquisas detalhadas para descobrir quem pode representar a “terceira” via nessa disputa. O horizonte, no entanto, ainda está embaçado.

O DEM comanda a Câmara, com Rodrigo Maia (RJ), e o Senado, com Davi Alcolumbre (AP), além de ter o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, e de controlar três ministérios. Mesmo assim, não quer se unir a Bolsonaro em 2022 e tenta encontrar uma alternativa ao nome do governador João Doria (PSDB), que já está em campanha pela Presidência e enfrenta a oposição de seu colega Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul – também interessado na cadeira de Bolsonaro.

A portas fechadas, dirigentes do DEM dizem que Doria erra ao adotar estratégia sob medida para atrair o eleitor de Bolsonaro. Em recente reunião do partido, um deles argumentou que, entre “o original e o genérico”, a preferência de quem vota sempre será pela primeira opção.

Crítico do governador paulista, o senador Major Olimpio (SP), líder do PSL, afirmou que a fusão de seu partido com o DEM é “impraticável” por divergências em vários Estados, entre os quais São Paulo. “Lá, o PSDB manda no DEM”, provocou ele. O senador garantiu ainda que, na disputa para a Prefeitura, o PSL não aceitará uma dobradinha na qual a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) seja vice em uma chapa liderada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB). “Não vamos compor com um traidor”, atacou Olimpio, em referência a Doria.

Nordeste

Atrás do voto do eleitor mais pobre, Bolsonaro e os partidos com perfil conservador também investem cada vez mais no Nordeste, onde Lula é forte, apesar de estar inelegível. Na Bahia, por exemplo, o prefeito ACM Neto se prepara agora para disputar o governo, em 2022. Reeleito no ano passado e bem avaliado no Estado, o atual governador, Rui Costa (PT), gostaria de se candidatar ao Planalto. Lula, porém, não considera essa hipótese.

Depois de ficar 580 dias preso, o ex-presidente tenta derrubar suas condenações na Justiça e recuperar os direitos para concorrer, em 2022. Se não conseguir, tentará emplacar novamente o ex-prefeito Fernando Haddad. Antes, no entanto, Lula quer que Haddad dispute a Prefeitura, no ano que vem, podendo até mesmo ter a ex-prefeita Marta Suplicy (sem partido) como vice da chapa, como mostrou o Estado. Ele resiste.

A eventual aliança do PT com o PDT do ex-ministro Ciro Gomes não é vista como impossível, embora seja difícil. Ex-petista, Marta caminha, por exemplo, para se filiar ao partido de Ciro. Foi para arrumar o PDT no Ceará e combater o bolsonarismo que o senador Cid Gomes pediu licença de quatro meses, com menos de um ano de mandato. “Vou carregar pedra”, disse ele, que em 2018 coordenou a campanha do irmão Ciro à Presidência.

Desafeto dos petistas, Ciro promete entrar de novo no páreo. No ano passado, o Centrão quase fechou acordo com ele, mas desistiu e apoiou o tucano Geraldo Alckmin, que acabou em quarto lugar, o pior desempenho da história do PSDB. À época, dirigentes do DEM disseram que a candidatura de Ciro “descia quadrado”. Até agora, no entanto, não encontraram nenhum nome que represente o projeto do centro liberal.

O apresentador de TV Luciano Huck é interlocutor de Maia, mas ainda não decidiu se vai lançar o seu nome. O próprio Maia, por sua vez, é sempre citado para vice em alguma chapa.

Mais popular do que o próprio Bolsonaro, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, continua assediado pelo Podemos. A bancada lavajatista quer fazer de Moro o novo “outsider” de 2022, mas, no Planalto, ele só é lembrado para compor chapa com o presidente e impulsionar o plano da reeleição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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