Foto: Agência Brasil |
Delúbio: encontro teria sido agendado por Marcos Valério. |
Em entrevista à revista Veja desta semana, o banqueiro Daniel Dantas, controlador do grupo Opportunity, afirma que em julho de 2003 o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares pediu entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões para "resolver as dificuldades" do grupo com o governo. Na entrevista dada ao colunista Diogo Mainardi, Dantas diz que Delúbio fez o pedido ao ex-diretor do Opportunity Carlos Rodenburg, em encontro agendado pelo empresário Marcos Valério. Procurada pela reportagem, a assessoria do Opportunity não se pronunciou até as 14h deste sábado.
A revista também reproduz lista de supostas contas no exterior pertencentes a políticos, sobretudo petistas, informando que tem veracidade duvidosa. Aparecem na relação o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Márcio Thomaz Bastos e os ex-ministros José Dirceu, Antônio Palocci e Luiz Gushiken. A lista teria sido dada à Veja por Frank Holder, ex-agente da CIA que trabalharia para a agência de investigação Kroll, e pelo ex-ministro argentino José Luís Manzano.
A lista publicada indica que Lula teria conta com US$ 38.552,23; Dirceu, US$ 36.255,36, e Palocci, US$ 2.125.805. Constam da lista, ainda, o senador Romeu Tuma (PFL-SP), Paulo Lacerda, atual diretor da Polícia Federal, e Duda Mendonça. Na entrevista, Dantas diz que o pedido de dinheiro de Delúbio não foi atendido. Em seguida, o mesmo pleito teria sido levado ao parceiro americano do Opportunity, o Citibank. Dantas teria dito à diretora Mary Lynn, do Citi, que se pagasse uma quantia "muito grande" ao PT talvez as dificuldades do grupo com o governo Lula cessassem. "Mas acrescentei que não era essa a minha expectativa", diz Dantas na entrevista. Lynn teria desaconselhado o pagamento.
Dantas afirma ainda que essa não foi a primeira vez que um cardeal petista pediu dinheiro ao Opportunity. Durante a campanha eleitoral de 2002, contou, Ivan Guimarães (ex-presidente do Banco Popular do Brasil que saiu de circulação em meio ao escândalo do mensalão) deixou um kit do PT para Rodenburg, sinalizando um pedido de apoio financeiro. Rodenburg não conhecia Guimarães e mandou devolver o kit. A partir dessa ação, Dantas especula: "Isso foi interpretado pelo PT como um ato hostil, mas nós éramos politicamente neutros e não tínhamos nada contra o partido".
O banqueiro assegura que o PT quis tirar o Opportunity do comando da Brasil Telecom "porque havia um acordo entre o PT e a Telemar (que depois compraria de Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a empresa Gamecorp) para tomar os ativos da telecomunicação em troca de dinheiro de campanha".
Dantas revelou que tentou se aproximar do governo. A Veja afirma que ele pagava R$ 100 mil mensais à Gamecorp por conteúdo para o portal da Brasil Telecom. O banqueiro conta, na entrevista, que ouviu do ex-presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb que, se ele não entregasse o controle da Brasil Telecom, "o governo iria passar por cima".
Dantas não afirma, mas sugere, na entrevista, que a Brasil Telecom só conseguiu dinheiro do BNDES depois de contratar o advogado Antônio Carlos Almeida Castro, o Kakay, amigo íntimo de Lula e do ex-ministro José Dirceu. "Houve uma sincronia entre os fatos" (entre a contratação e a liberação do dinheiro), observou.
Lula diz que denúncia é "uma grosseria"
Viena (AE) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem com irritação ao ser questionado por jornalistas sobre a reportagem publicada pela revista Veja, segundo a qual petistas, entre eles o próprio Lula, teriam contas em paraísos fiscais, e o partido teria tentado extorquir o banqueiro Daniel Dantas. "A revista não traz uma denúncia. Traz uma mentira. Eu considero isso um crime", disse o presidente, que encerrou ontem sua passagem de três dias por Viena. "A reportagem é de uma leviandade e grosseria que um ser humano comum não pode admitir, quanto mais um presidente da República."
A revista reproduz um documento de autenticidade duvidosa, no qual Lula aparece como beneficiário de US$ 38,5 mil. Dantas teria montado um dossiê com dados sobre contas mantidas no exterior por políticos e autoridades, entre eles o próprio Lula. Antes da entrevista em Viena, o presidente tirou fotos com funcionários do Hotel Imperial, onde se hospedou, e com os repórteres, além de fazer em tom de brincadeira uma referência à primeira-dama: "Se tivessem me avisado antes que eu tinha 38 mil eu tinha comprado um presente para a dona Marisa".
Ao começar a entrevista, Lula mudou de tom. "Acho que houve uma total irresponsabilidade. Vocês conhecem alguns dos jornalistas citados e sabem o que eles têm feito ao longo dos meses no País. Eu não acredito que dentro da Veja haja uma única pessoa que tenha 10% da dignidade e da honestidade que eu tenho", afirmou. "Não posso admitir isso. É uma ofensa ao presidente da República, é uma ofensa ao povo brasileiro. Essa prática de jornalismo não leva o País a lugar nenhum. É uma insanidade o que foi publicado. A pior prática de jornalismo possível."