O secretário estadual de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, falou ontem à Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) da Terra, em Brasília, para se defender das acusações que recebeu do tenente-coronel Valdir Copetti Neves, preso pela Polícia Federal (PF), acusado de chefiar uma milícia armada que agia na região de Ponta Grossa com o objetivo de combater sem terra.
Delazari falou por quase três horas à CPMI e disse que as acusações feitas por Neves – durante depoimento prestado à CPMI da Terra em Curitiba no último dia 18 – são ?levianas e fruto de desespero?. ?Este criminoso travestido de policial está tentando denegrir a minha imagem. Estas acusações são falsas e levianas?, disse.
Delazari aproveitou a ocasião e acusou Neves de tortura, de forjar mandados de prisão para entrar em acampamentos de sem terra e também de estar envolvido no assassinato do líder sem terra Diniz Bento da Silva, conhecido como Teixeirinha, morto numa troca de tiros com a PM em 1993, na região de Cascavel. Delazari apresentou diversos documentos comprovando tais acusações e respondeu aos questionamentos dos integrantes da CPMI.
O secretário negou as acusações de que seria usuário de drogas, conforme Neves havia dito no depoimento feito em Curitiba. Naquela ocasião, Neves apresentou um dossiê no qual havia informações de que Delazari era usuário de drogas e comprava cocaína do traficante Cláudio Roberto Pacheco, o Sussuquinha e que isto acontecia no Bar do Ali, na Rua Padre Germano Mayer, em Curitiba. Delazari disse que ?nunca usou qualquer tipo de entorpecente? e que não conhece Pacheco. Ele leu um comunicado da delegada Leila Bertolini, que acompanhou Pacheco até Brasília na época da CPI do Narcotráfico. A delegada informou que acompanhou o depoimento do traficante e disse que ele jamais citou o nome do secretário como usuário de drogas. Delazari leu ainda uma declaração do próprio Pacheco, dizendo que não conhece o secretário e que nunca vendeu drogas para ele.
Quanto à acusação de fazer interceptações telefônicas sem autorização judicial, Delazari disse que a afirmação é inconsistente. Ele esclareceu aos integrantes da CPMI que a SESP comprou o equipamento Guardião para fazer escutas telefônicas, em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública e Ministério da Justiça. Delazari disse que o aparelho, que pode fazer 600 interceptações simultâneas, custou R$ 1,5 milhão e foi comprado em Santa Catarina. ?Compramos este equipamento para auxiliar no combate do crime organizado. Não existe grampo. Fazemos interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça?, disse.
Quando questionado pela deputada federal Kátia Abreu se tinha acesso às gravações feitas pelo aparelho, Delazari afirmou que ?tinha mais o que fazer do que ouvir degravações e acompanhar detalhes de investigações policiais?.
O presidente da CPMI, senador Alvaro Dias, disse que as acusações feitas por Delazari contra Neves são graves e que vai encaminhar todos os documentos à Procuradoria Geral da República.
Neves: ?Eu não invento histórias?
O tenente-coronel Valdir Copetti Neves foi ouvido também pela CPMI em Brasília. Neves voltou a fazer as mesmas acusações contra Delazari e o secretário padre Roque Zimmermann. ?Eu não invento histórias. Falo apenas a realidade, baseado em fatos. O secretário está em desespero de causa, tentando me incriminar?, disse.
Neves negou ter participado da operação que resultou na morte de Teixeirinha. ?Eu comandava o grupo Águia naquela época e fui designado para prender oito líderes sem terra responsáveis pela morte de três PMs. Prendi sete deles e fui designado para outro trabalho. Quando a PM encontrou o Teixeirinha, eu estava a mais de 600 quilômetros do local. Existe um inquérito tramitando em Cascavel sobre este assunto e as provas estão lá. Não há qualquer relação comigo?, afirmou.
O tenente-coronel voltou a afirmar que está sendo perseguido e que é um ?preso político?. Neves chegou até a chorar enquanto falava do trabalho que prestou ao Estado do Paraná e todas as promoções por mérito que recebeu durante toda sua carreira.
Só no início da noite, a CPMI ouviu o depoimento do delegado da Polícia Federal Fernando Francischini, que esclareceu detalhes sobre o funcionamento da força-tarefa formada pela PF e a Secretaria Estadual de Segurança Pública, formada com o intuito de investigar o crime organizado no Paraná. Francischini respondeu ainda as dúvidas dos integrantes da CPMI sobre o funcionamento do equipamento Guardião, que faz interceptações telefônicas. Depois disso, o delegado foi ouvido em sessão secreta para falar sobre detalhes da Operação Março Branco, que prendeu Neves, cinco PMs da reserva e um exonerado, além de dois falsos sem terra.
Exaltado
O secretário Luiz Fernando Delazari se exaltou ao defender o irmão Carlos Emiliano Ferreira Delazari, preso em junho de 2002 ao tentar entrar na prisão do Ahu, em Curitiba, com droga escondida na barra da calça. Neves acusou Delazari de interceder para liberar o irmão. ?O meu irmão não é um criminoso, foi investigado pela polícia e o inquérito arquivado. Eu não era secretário na época e não interferi no processo?, disse. (SR)
