O delator Juscelino Gil Velloso, irmão do ex-subsecretário de Transportes do Rio Luiz Carlos Velloso, relatou à Procuradoria da República uma entrega de valores ao ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), em Brasília. Os depoimentos de Juscelino e Luiz Carlos Velloso foram prestados em maio do ano passado e subsidiaram a investigação da Operação Lava Jato, no Rio, sobre a corretora Advalor – alvo de ação deflagrada nesta sexta-feira, 10.

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O empresário João Paulo Julio de Pinho Lopes, filho do empresário Miguel Julio Lopes e ligado à Advalor, foi preso preventivamente pela Polícia Federal durante a manhã. A corretora foi alvo de mandado de busca e apreensão. Miguel Julio Lopes foi alvo da Lava Jato, no Paraná, em março de 2017. Atualmente, ele mora em Portugal.

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Luiz Carlos Velloso afirmou que Augusto Nardes girou R$ 1,2 milhão na corretora. O delator relatou que o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco lhe apresentou a Advalor “em razão do pagamento mensal de R$ 100 mil mensais ao ministro Nardes”.

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Aos investigadores, Luiz Carlos e Juscelino relataram que a Advalor era usada “como uma espécie de instituição financeira para armazenar recursos ilícitos de agentes públicos, bem como efetivar pagamentos em seu favor”.

Augusto Nardes foi o ministro do TCU responsável pela análise das contas da ex-presidente Dilma (PT). Em 2015, Nardes atribuiu a então presidente “responsabilidade direta sobre as pedaladas fiscais”.

Em depoimento, Juscelino Velloso contou que foi à corretora por meio do irmão no final de 2015. O delator disse que Luiz Carlos pediu que Miguel Julio Lopes, o “baixinho”, atendesse seus pedidos.

“Luiz era destinatário dos valores retirados na Advalor; que também recebia orientações de Luiz para fazer depósitos em contas do Banco do Brasil; que se tratava de depósitos feitos em benefício de Nardes”, afirmou Juscelino.

“Luiz não costumava dar satisfação sobre a destinação dos valores, mas que em uma oportunidade Luiz relatou que entregaria os valores a Nardes, indo a Brasília fazer a entrega; que eventualmente ia na Advalor só para pegar recibos de depósitos realizados pela corretora a mando de Luiz.”

O delator Juscelino afirmou que “não pegou valores na Advalor para entregar para outras pessoas”. Disse ainda que “os depósitos eram feitos em dinheiro”.

“Os valores eram picados para realizar os depósitos, não sendo muito altos”, declarou.

O irmão do ex-subsecretário afirmou ainda que “a Advalor também fazia transferências para pessoas vinculadas a Nardes”. O delator contou que “também pagou contas (mensalidade escolar) e fez depósitos nas contas de pessoas vinculadas a Nardes” e citou um interlocutor identificado como Flavio Camilloti.

“O irmão do colaborador disse que Camilotti tem relação com o ministro Nardes; que Igor Copetti é sobrinho do Nardes; que ele ficou hospedado uma vez no apartamento da Avenida Atlântica; que ele apresentou um escritório de advocacia sediado em Goiás e apresentou uma relação de pessoas que tinham dinheiro a receber, por exemplo, ações”, disse o delator.

“Foi encaminhada uma relação de pessoas que detinham créditos para saber se o colaborador conhecia; que Igor Copetti ficou hospedado no apartamento por ser sobrinho de Nardes, a pedido de Luiz; que depois chegou a receber informações sobre créditos detidos por uma massa falida de uma empresa de material de construção; que chegou a fazer um contrato de parceria para o recebimento de porcentual sobre esses créditos, mas não houve irregularidades nessa transação; Que Igor Copetti não recebeu dinheiro da Advalor.”

De acordo com o delator, havia uma conta na Advalor, que está ativa atualmente. Juscelino contou que foi três vezes à corretora saber o saldo.

“Resolveu gravar uma ida a Advalor para assegurar o motivo do comparecimento; que tentou sacar o dinheiro para apresentar ao Ministério Público Federal; que foi

‘enrolado’ pelo filho de Miguel Julio Lopes, chamado João”, disse.

Segundo o delator, “no primeiro dia, o contato foi feito pessoalmente”. Juscelino declarou que “depois continuou indo sempre pessoalmente para tentar pegar um extrato da conta”.

“Antes nunca tinha pegado extrato a pedido de Luiz; que não conseguiu, mas gravou as idas à corretora; que, na gravação, o colaborador tenta informações sobre o saldo da conta para pagar o advogado; que também João diz os dias e valores que foram feitos saques pelo colaborador; que as datas e valores estavam anotados em um papel; que tentou informações sobre o valor que foi movimentado”, afirmou.

Juscelino disse que “ao longo de um ano foi movimentado R$ 145 mil”. O delator declarou que disse a João Paulo Julio de Pinho Lopes que havia R$ 500 mil para ver sua reação.

“Argumentava dizendo que precisava do dinheiro para pagar advogados; que João disse que estava numa situação difícil por causa da busca e apreensão; Que a gravação foi feita com um celular novo; que a gravação foi feita para comprovar que estava sendo enrolado; que baixou um programa para fazer a gravação”, contou.

Defesas

Por meio da Secretaria de Comunicação do Tribunal de Contas da União, o ministro Augusto Nardes informou que “nunca foi relator das obras da linha 4 do metrô do Rio de Janeiro, jamais teve qualquer relação com a corretora de valores mencionada e não conhece a pessoa objeto do mandado de prisão”. O ministro refuta veementemente as “ilações veiculadas e informa que está à disposição das autoridades para os esclarecimentos necessários, como qualquer cidadão”.

Em nota à imprensa, a defesa do Deputado Julio Lopes afirma que “seu cliente não tem nenhuma relação com os fatos em apuração, bem como com os alvos da operação policial de hoje.”