Delator implica chefe de gabinete de ex-presidente da Petrobras em propina

O lobista Julio Gerin Camargo afirmou à força-tarefa da Operação Lava Jato que Armando Tripodi, ex-chefe de gabinete de José Sérgio Gabrielli na presidência da Petrobras, tratou diretamente do pagamento da agência de Muranno Brasil Marketing, feito em 2010, com dinheiro de propina desviado da estatal pelo PT, PMDB e PP.

O valor seria uma operação de pagamento ao empresário Ricardo Villani, dono da Muranno, que cobrava dinheiro devido por serviços prestados sem contrato na Petrobras. O empresário afirmou à Polícia Federal que tinha R$ 7 milhões a receber da estatal por eventos realizados em corridas de Fórmula Indy, nos Estados Unidos, de divulgação da marca da estatal.

As suspeitas são que o dono da Muranno teria chantageado diretores da Petrobras para que pagassem a dívida. Caso contrário, ele revelaria publicamente o esquema de fraudes na estatal. Villani nega.

Dívida

“Foi procurado por Paulo Roberto Costa, o qual indagou ao depoente se haveria possibilidade deste arcar com uma parte dos valores devidos pela Petrobras à Muranno em razão de contratos irregulares”, afirmou Julio Camargo, em depoimento no dia 29 de outubro.

“Após a solicitação de Paulo Roberto Costa, o declarante conversou com Armando Tripodi, chefe de gabinete de Sérgio Gabrielli, o qual ressaltou a importância e a urgência em se resolver esse assunto o quanto antes. Para ele, a conversa demonstrou a importância do pedido feito pelo ex-diretor da estatal.”

Julio Camargo prestou um segundo depoimento neste inquérito no dia 12 de janeiro. O lobista, que atuava em nome de grupos estrangeiros, como o japonês Mitsui, e de empreiteiras do cartel, como a Camargo Corrêa, foi citado inicialmente nas delações do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef – primeiros delatores do escândalo.

Julio Camargo diz que realizou o pagamento de aproximadamente R$ 1 milhão “para ajudar na quitação de tais dívidas e que a operação foi feita por Youssef”.

Na quebra de sigilo bancários das firmas da lavanderia de dinheiro do doleiro, a força-tarefa da Lava Jato havia identificado o repasse de pelo menos R$ 1,6 milhão para a Muranno. Ouvido após fechar delação, o doleiro disse que cuidou do repasse de R$ 6 milhões no episódio, entre o final de 2010 e início de 2011.

Eleição

O ano encerrava os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a disputa inaugural da presidente afastada Dilma Rousseff. “Foi procurado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, o qual comentou que teriam havido operações irregulares na área de comunicação da Diretoria de Abastecimento”, contou Julio Camargo.

A Diretoria de Abastecimento era uma cota do PP, com um diretor apoiado pelo ex-presidente Lula e também, a partir de 2007, por membros da cúpula do PMDB, como o atual ministro do Planejamento, Romero Jucá, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL).

Julio Camargo conta que ouviu de Costa que a Muranno foi contratada Petrobras “sem a devida aprovação interna necessária”. “Por conta disso, não poderia arcar com tais gastos, vez que eles foram contratados de modo irregular.”

“Em razão das cobranças realizadas pela Muranno, teve a ideia de repassar tais custos aos partidos políticos ligados à Petrobras, quais sejam: PP, PT e PMDB.”

Julio explicou que ouviu de Paulo Roberto Costa o pedido de repasse e a orientação de que o valor fosse descontado da conta informal do PT no caixa de propinas desviadas da Petrobras. “O declarante disse que poderia ajudar Paulo Roberto Costa com tal questão, mas que iria ajudar individualmente, sem ficar encarregado de liquidar com a parte ‘devida’ pelo PT.”

O inquérito da Muranno integra a frente de apuração da Lava Jato sobre suposta corrupção em contratos de publicidade e comunicação da Petrobras. Essa apuração pode atingir outras áreas do governo e servir de novo elo com o escândalo do mensalão, acreditam investigadores.

Armando Tripodi não foi localizado para comentar o caso.

Defesa

O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli tem negado reiteradamente o envolvimento com o caso. Em nota divulgada anteriormente, ele afirma que nunca teve contato com a empresa Muranno e que só depois das reportagens veio a saber que prestava serviços para a Comunicação do Abastecimento e não para a Comunicação Corporativa. “Desta forma não poderia haver uma ‘pendência’ da Petrobras com a referida empresa”, disse. “Se havia alguma pendência com a área de Abastecimento, não era do conhecimento da Presidência da Petrobras.”

Gabrielli também nega ter conhecido Youssef.

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