O executivo Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou nesta segunda feira (09) à Justiça Federal no Paraná que o pagamento de propinas na Petrobras “era a regra do jogo, um compromisso de confiança entre as partes, um compromisso institucionalizado”. Renato Duque tem reiterado com veemência que jamais recebeu propinas do cartel de empreiteiras que agiam na Petrobras.
Ele disse que repassou propinas para duas diretorias da Petrobras, Abastecimento, então sob comando de Paulo Roberto Costa, e Engenharia e Serviços, na ocasião dirigida por Renato Duque, ambos alvos da Lava Jato. Ao ser questionado se havia pagamentos diretamente em contas de titularidade de diretores ou gerentes da estatal petrolífera, Camargo declarou.
“Era sempre em nome de offshores, cujo beneficiário eu não sabia quem era. Identifiquei uma conta só, do sr. Renato Duque, porque eu auxiliei na abertura da conta no mesmo banco onde eu tinha conta. Houve uma transferência da minha conta para a conta dele.”
Julio Camargo foi arrolado pelo Ministério Público Federal como testemunha de acusação nas ações penais contra os maiores empreiteiros do País, que estão sob suspeita de terem formado cartel para conquistar contratos bilionários na Petrobras.
Para não ser preso, ele decidiu fazer delação premiada e se comprometeu a devolver R$ 40 milhões ao Tesouro. Ele era titular de três empresas, Auguri, Treviso e Piemonti, pelas quais transitavam valores ilícitos.
Em seu depoimento desta segunda, ele admitiu ter distribuído propinas sobre seis contratos para as Diretorias de Abastecimento e de Engenharia. Segundo ele, na diretoria de Abastecimento o contato era o doleiro Alberto Youssef. Na Engenharia, Pedro Barusco (ex-braço direito de Renato Duque), que também fez delação premiada.
Camargo foi enfático quando indagado pelo juiz Sérgio Moro, que conduz todas as ações da Lava Jato, se naqueles seis contratos houve pagamento de propinas e se isso era uma praxe.
“Era a regra do jogo”, respondeu o delator. Ele disse que trabalhava como consultor empresarial, inicialmente, pela Toyo do Japão e Setal Óleo e Gás. O juiz perguntou.
“O sr. tem conhecimento de que outras empresas pagavam?” O delator respondeu. “Era a regra do jogo, eu acredito que pagavam. Eram coisas que a gente não comentava um com o outro porque evidentemente era segredo de cada empresa.”
O sr. encarava esses pagamentos com naturalidade?, insistiu Sérgio Moro. “Sim, se eu quisesse ter sucesso, e a minha atividade era obter sucesso aos meus clientes, era obrigatório o pagamento das propinas.”
Julio Camargo relembrou que em 2006 repassou R$ 7,5 milhões para a “área de Engenharia” e outros R$ 7,5 milhões “para a área de Abastecimento”. “Na Abastecimento sempre meu contato para liquidação era o senhor Alberto Youssef. E dali, em conjunto, a gente organizava um cronograma de pagamento para contemplar a área. Na parte de Engenharia eu me relacionava para a liquidação e para determinação do cronograma com o senhor Pedro Barusco.”
Um procurador da República perguntou ao delator sobre como se chegou aos valores de R$ 7,5 milhões para cada diretoria da Petrobras. “Eram negociações, havia um número nominal de 1% (de propinas sobre o valor de cada contrato) para cada área. Porém, isso aí era negociável, flexível, e se chegava a esses valores de comum acordo sobre o montante dos contratos. Se a gente não fizesse assim não obteria os contratos, as coisas não andariam tão bem como deveriam andar.”
“Quando eu fazia os meus contratos eu calculava o valor da propina como um custo meu”, declarou Julio Camargo. “E quando eu negociava o montante do contrato eu considerava a propina, mais evidentemente os custos que esse contrato gerava. E determinávamos em comum acordo o montante do meu contrato.”
O procurador perguntou a Julio Camargo como era feito o pagamento. “Geralmente, pelo senhor Alberto Youssef, através das minhas empresas que tinham origem da Receita reconhecida, os impostos pagos. Eram feitas remessas através do Banco Central para o exterior. Uma parte dessas remessas ia para aplicações das empresas. Uma parte se destinava ao pagamento de propinas. Minhas três empresas fizeram aportes na GFD Investimentos (controlada por Youssef).” Segundo o delator, na área de Engenharia a propina era pago por meio de offshores indicadas por Pedro Barusco.