Debate sinaliza para 2º turno hostil em São Paulo

O primeiro debate entre o prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Gilberto Kassab (DEM), e a candidata Marta Suplicy (PT) mostrou que o confronto direto e hostil dará o tom da campanha municipal no segundo turno. Marta adotou uma estratégia agressiva: atrelou, durante todo o programa, a imagem de Kassab às dos ex-prefeitos Paulo Maluf (PP) e Celso Pitta, do qual foi secretário de Planejamento. O prefeito de São Paulo deu o troco, afirmando que a candidata do PT está ao lado do ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento do partido Delúbio Soares, pois tem como uma das principais assessoras a mulher dele.

Delúbio esteve no cerne dos debates de corrupção no País com o escândalo do “mensalão”. Enquanto Marta insistia durante quase todo o programa em “colar” Kassab em Maluf e Pitta, dizia que estava ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já o prefeito tentou atrelar-se ao governador José Serra (PSDB), do qual foi vice-prefeito. “Serra deu as linhas mestras deste governo. Dei seqüência ao plano de governo dele, e a boa saúde financeira da cidade foi reconquistada”, afirmou.

As agressões começaram logo no início do debate na TV Bandeirantes, domingo à noite (12). Quando Kassab perguntou a Marta por que as áreas pavimentadas na capital paulista foram “tão poucas” no mandato dela, a petista voltou ao tema das “companhias” políticas: “Não podemos esquecer que Kassab era secretário de Planejamento de Pitta, que acabou com a cidade”. A candidata do PT à Prefeitura tentou também dar ao prefeito a marca de candidato “duas caras”, afirmando que “há o Kassab da caneta”, que assina leis, e o da “publicidade”, que, de acordo com ela, mente.

O prefeito disse que, quando Serra assumiu a administração municipal, encontrou a capital numa “situação difícil” deixada por Marta. Foi, então, que procurou acoplar a imagem da candidata do PT à da prefeita que criou taxas. “Você vai continuar com a taxa de asfalto?”, perguntou Kassab a Marta. “Era asfalto comunitário, um jeito de a Prefeitura falida, que você deixou, fazer asfalto para as pessoas”, respondeu a candidata. “Não deixei a Prefeitura falida”, retrucou o candidato do DEM a prefeito.

Tensão

Num dos momentos mais tensos do debate, Marta disse que Kassab vetou um projeto de lei que aumentava para seis meses a licença-maternidade de funcionárias públicas municipais. Kassab justificou, afirmando que vetou porque ele foi proposto na Câmara Municipal, que não poderia legislar sobre aumento de despesas. Mas, segundo Marta, na justificativa de veto, lida por ela, o prefeito alegou que não havia comprovação científica da necessidade da licença de seis meses. O público começou a aplaudi-la e o jornalista Boris Casoy, mediador, teve de intervir para interromper as manifestações.

Kassab pôs em dúvida a proposta de Marta de oferecer internet de banda larga gratuita para toda a capital. “Eu não vou fazer esse projeto, pois as escolas já têm Telecentros. O custo da internet de graça é de R$ 2,5 bilhões para a Prefeitura. Essa proposta é um factóide”, atacou o democrata. “Vou fazer sim porque é o futuro de nossa cidade e as pessoas têm direito. O custo será de R$ 64 milhões”, revidou a candidata petista.

Num outro momento de tensão, o candidato do DEM ironizou a adversária, dizendo que Marta teve na criação de taxas e impostos “uma de suas principais virtudes”, ao responder a uma afirmação da petista de que ele teria enviado para a Câmara um projeto que criaria pedágio urbano na cidade. Kassab disse que o envio dessa proposta foi um equívoco da assessoria dele e que havia sido feito um novo projeto. Mas Marta continuou: “O projeto está lá. Na segunda versão, também tem pedágio. Você (eleitor) pode se preparar para pagar pedágio.” Kassab contestou: “É mentira que vou implantar pedágio urbano”.

Marta também chamou Kassab de “mentiroso”. Num dos blocos, ele perguntou porque a petista havia construído apenas um parque quando foi prefeita. “É uma mentira deslavada que construí um só parque”, respondeu a ex-prefeita. “Fizemos muitos parques e plantamos muitas árvores.” Quando Marta tentou, novamente, conectar a figura de Kassab à de Maluf e Pitta, o prefeito respondeu, enfaticamente. “O Maluf é da base do governo Lula”, lembrou o democrata. “Tenho muito orgulho de minhas companhias: Serra, Goldman (Alberto Goldman, vice-governador), Bornhausen (Jorge Bornhausen, ex-senador). Eu me afastei do Pitta”, disse. Para pelo menos uma pergunta os dois tiveram respostas convergentes. Logo no primeiro bloco, Casoy perguntou se eles cumpririam integralmente o mandato, se fossem eleitos. A petista e o democrata disseram que ficariam até o fim.

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