Autodenominado “fruto de um Deus vivo”, Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos – ou deputado federal Cabo Daciolo – ganhou notoriedade nas redes sociais. As menções ao nome do candidato do Patriota ao Planalto superaram as dos principais candidatos no Twitter no primeiro debate presidencial, realizado anteontem. Defensor de militares e evangélicos, esse catarinense de Florianópolis, de 42 anos, sempre faz pronunciamentos marcados por citações religiosas e em tom que mistura messianismo e teorias conspiratórias.
No mês passado, ele “profetizou” a “cura” da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), tetraplégica após um acidente de carro em 1994. Em sessão no plenário da Câmara, advertiu os colegas que o que ia dizer seria visto como loucura por alguns – mas a deputada, afirmou ele, iria “levantar da cadeira e começar a andar”.
“Há dois anos, Deus me cobra para falar algo para essa deputada. Quero diante de todos profetizar a cura da deputada Mara. Eu creio que aquela mulher vai levantar da cadeira e começar a andar. Eu peço ao Deus das causas impossíveis que Ele possa estender a mão Dele e possa tocar na sua serva”, disse ele, apontando para a deputada, com a Bíblia nas mãos. “Eu saio daqui e vou me direcionar a ela. Vou a um lugar em particular. Creio que em alguns minutos ela voltará a andar.”
Greve. Cabo-bombeiro da reserva, começou a ganhar fama por sua atuação na greve dos bombeiros do Rio em 2011, durante o governo de Sérgio Cabral (MDB). À frente do movimento que pedia auxílio-transporte para os bombeiros militares, melhores condições de trabalho e aumento do piso salarial da corporação, foi um dos líderes da ocupação do Quartel Central, no Centro velho do Rio. Acabou preso disciplinarmente e, junto com outros 13 bombeiros, foi expulso da corporação por incitamento e aliciamento para motim.
Anistiado pelo Estado e pelo governo federal, aceitou convite para se filiar ao PSOL e, em 2014, se elegeu deputado federal com 49.831 votos. Expulso do PSOL, passou depois por PTdoB e pelo Avante até chegar ao Patriota.
O deputado repetia da tribuna que seu mandato “era de Deus” e chegou a apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para que o texto constitucional passasse a dizer que “todo poder emana de Deus”. O texto afirma que “todo poder emana do povo”.
É justamente da mistura de religião e política que reclamam bombeiros que militaram com Daciolo. Eles dizem que agora o parlamentar é um representante na Câmara dos Deputados de setores evangélicos, não deles. Procurado, o deputado não falou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.