Esvaziada, sem metas nem líderes dos países ricos, a Cúpula Mundial contra a Fome ocorre hoje em Roma com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia do Brasil e de países emergentes de colocar a meta de eliminar a fome até 2025 não entrará no acordo final. Diante de desentendimento entre os governos, o evento corre risco de não representar avanço na luta contra a fome.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que promove a cúpula, anunciou que, pela primeira vez, mais de 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo, mesmo com recorde mundial da safra de grãos em 2008. A crise financeira internacional teria aumentado o número de famintos e desfeito anos de esforços para lidar com a falta de alimentos. Em dois anos, protestos em 60 países foram registrados por causa da alta nos preços. Mesmo com a recessão e queda nos valores das commodities, o custo caiu para a população mais vulnerável.
Os países em desenvolvimento propuseram que a declaração final estabelecesse a eliminação dos índices de fome até 2025, seguindo a meta da América Latina. Mas o texto final não vai apresentar prazo. “Estamos comprometidos a tomar ações para uma erradicação sustentável da fome no prazo mais curto possível”, afirma a declaração que deve ser aprovada hoje.
Outro problema na cúpula está relacionado com a promessa de recursos por parte dos países ricos para alimentar populações carentes. Na reunião do G-8, no meio do ano na Itália, líderes anunciaram que destinariam US$ 20 bilhões para lutar contra a fome. Até hoje, esse dinheiro não veio.
Na virada do século, a Organização das Nações Unidas (ONU) já havia estabelecido a redução da fome pela metade até 2015. Mas o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, disse que, na melhor hipótese, ela pode ficar para 2045. “Essa tragédia não é apenas moral. Mas também uma ameaça para a paz”, alertou Diouf. “Pessoas famintas são grande potencial para conflitos e migrações.”