O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quer indicar o chefe da Receita Federal no eventual governo de Michel Temer. O assunto foi tratado reservadamente com o vice-presidente, segundo aliados do deputado. Cunha pretende apresentar um técnico da sua confiança para o órgão, que é subordinado ao Ministério da Fazenda. Fundamental na abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o peemedebista tem sido avalista de indicações de deputados para o governo Temer.

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As negociações de Cunha tiveram início antes mesmo da votação do impeachment. Num primeiro momento, as conversas ficaram a cargo do líder do PSC, André Moura (SE), e do ex-deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), que também havia sido o principal operador da eleição de Cunha para presidente da Câmara em 2015. Após o impeachment, o próprio Cunha assumiu as negociações. Por causa disso, ele tem sido cobrado por lideranças sobre o cumprimento de acordos.

Em meio a essas conversas com partidos na Câmara, surgiu a informação de que Cunha quer indicar o novo secretário da Receita. O órgão é de extrema importância para colher informações sobre empresas, dentro e fora do País. Inclusive para monitorar operações que podem resultar em investigações. A Receita teve papel fundamental, por exemplo, nas operações Lava Jato, Acrônimo e, sobretudo, Zelotes, que revelou um esquema de corrupção no Conselho de Administrativo de Recursos Fiscais.

A mais recente tentativa de interferência política na Receita foi revelada na conversa gravada com autorização judicial entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. “É preciso acompanhar o que a Receita está fazendo com a Polícia Federal”, disse Lula a Barbosa, segundo áudio divulgado pelo juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância. Na oportunidade, Barbosa responde de forma monossilábica.

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Auditores ouvidos pela reportagem já avisaram que não vão aceitar interferências políticas para o comando da Receita. Desde a saída de Everardo Maciel, que foi o secretário do órgão no governo Fernando Henrique Cardoso, todos os outros comandantes do órgão foram funcionários de carreira. É por esse motivo que o plano de aliados de Cunha é indicar um nome dos quadros da Receita.

Negativa

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Questionado pela reportagem, o presidente da Câmara negou “de forma veemente” que pediu a Temer para nomear um nome dele para a Receita. “Não vou indicar ninguém no governo. Não participo de qualquer escolha”, disse.

A assessoria da Vice-Presidência da República afirmou que “o secretário da Receita e todos os cargos vinculados ao Ministério da Fazenda serão indicados pelo novo ministro da pasta”. O nome mais cotado é o do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles (PSD).

Por ora, Cunha mantém uma boa relação com o vice. Apesar disso, segundo aliados, ele guarda na manga um pedido de impeachment contra Temer caso ele descumpra acordos firmados antes da votação do impeachment. O presidente da Câmara tem atuado como avalista das indicações das bancadas da Casa para o ministério de Temer. “Ele quer garantia de que poderá contar com apoio no futuro”, contou um deputado do PP, referindo-se ao processo de cassação do qual Cunha é alvo no Conselho de Ética. Por isso, o deputado fluminense tem vetado nomes agressivos a ele.

Um caso emblemático é o da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), inicialmente sondada para a pasta de Direitos Humanos. Em novembro do ano passado, ela pediu a saída de Cunha durante uma sessão na Câmara. No começo da semana, ela saiu da lista de cotados pra o ministério e foi substituída por Bruno Araújo (PSDB-PE), que atuou de forma afinada com Cunha. Questionado, o parlamentar fluminense “refuta” agir como avalista da formação do Ministério de Temer. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.