A ex-senadora Marina Silva afirmou hoje que a crise na base parlamentar de apoio ao governo federal, agravada com o anúncio do PR de que se manterá independente no Senado, tem relação com a “faxina” promovida pela presidente Dilma Rousseff no Ministério dos Transportes, alvo de denúncias de corrupção. Na avaliação dela, os desdobramentos políticos das exonerações promovidas na administração pública são um preço que precisa ser pago.
“Os problemas que a presidente vem enfrentando têm relação com os graves problemas de corrupção que vêm sendo denunciados”, afirmou. “Se essas saídas forem o preço para enfrentar esses problemas, é o preço que precisa ser pago”, disse. “É pagar o preço para fazer o que precisa ser feito.”
Segundo ela, Dilma tem agido de maneira quixotesca ao enfrentar o “nefasto gigante da corrupção”. “E para isso tem de ser ajudada pelos bons ventos da sociedade brasileira”. A ex-senadora defendeu que a sociedade dê apoio à presidente quando suas ações forem corretas. Para Marina, a reação da sociedade é a melhor forma de “constranger” aqueles que acham que as instituições públicas podem ser privatizadas por partidos. “Eu acho necessária uma grande mobilização da sociedade para que não tenhamos apenas espasmos de combate à corrupção, mas um processo estrutural.”
Após ministrar palestra no XI Congresso Brasileiro do Ministério Público de Meio Ambiente, promovido na capital paulista, a ex-senadora afirmou que a “faxina” promovida pelo Palácio do Planalto é “necessária” e “urgente”. “Se o governo federal quiser de fato encarar esse problema, que seja dada a sustentabilidade política para encarar o problema, inclusive contrariando a própria base da aliança que elegeu a presidente.”
Marina lembrou que boa parte das denúncias de corrupção foi levantada por meio de informações contidas em relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU), o que permitiria que os envolvidos fossem punidos antes de as denúncias serem divulgadas pela imprensa. “É fundamental criar uma cultura de antecipar essas faxinas, mesmo quando o problema não ganhou visibilidade na imprensa”, afirmou. “É importante acompanhar esses relatórios para poder ter uma ação antecipatória e evitar o dano político.”
Movimento
A ex-senadora Marina Silva informou hoje que conversou recentemente com a vereadora Heloísa Helena (PSOL) e que, durante o diálogo, ela disse que deve participar do projeto político capitaneado pela ex-ministra do Meio Ambiente, recém-saída do PV. Além da vereadora, os senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e Pedro Taques (PDT-MT), segundo a ex-ministra, já deram sinalizações de que farão parte do movimento suprapartidário.
“Nós conversamos por telefone e ela sinalizou que quer estar nesse debate”, disse Marina, referindo-se à vereadora. A ex-ministra, que fez palestra hoje no XI Congresso Brasileiro do Ministério Público de Meio Ambiente, na capital paulista, disse também que os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Pedro Simon (PMDB-RS) devem participar também da iniciativa.
Em junho, Heloísa já havia dito que poderia colaborar com a ex-ministra, independentemente de continuar no PSOL. Ela manifestou ainda afeto e respeito pela ex-colega de Senado. “Caso ela resolva criar um movimento nacional que possa ou não culminar com a construção de um novo partido, entendo que é legítimo que possamos democraticamente ajudá-la”, afirmou na época.
A amizade entre as ex-senadoras é antiga. Em 2010, Heloísa chegou a se indispor com o PSOL por defender o apoio do partido à candidatura de Marina Silva à sucessão ao Palácio do Planalto. A manifestação da vereadora causou constrangimento no PSOL, que acabou escolhendo Plínio de Arruda Sampaio como candidato da legenda.