A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Terra, presidida pelo senador Álvaro Dias (PSDB), aprovou ontem os pedidos de quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do tenente-coronel da Polícia Militar do Paraná, Waldir Copetti Neves, do investigador particular João Della Torres Neto e do policial militar Adair João Sbardella.
Os três foram presos durante a operação "Março Branco", comandada pela Polícia Federal, e são acusados de envolvimento na formação de milícias armadas para proteger fazendeiros do Estado contra as invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. A intenção da CPMI com essa medida é obter maiores informações sobre a articulação dos acusados na formação de milícias armadas no Estado.
Prisão
A investigação da Polícia Federal teve início vários meses antes da prisão e foi realizada em conjunto com a secretaria estadual de Segurança Pública. Foi apurado na ocasião que as milícias eram financiadas por fazendeiros ligados ao Sindicato Rural de Ponta Grossa. Os fazendeiros pagavam cotas mensais pelo patrulhamento e tinham garantia de reintegração de posse imediata, caso houvesse invasão do MST.
Os trabalhos da polícia foram concentrados na região de Ponta Grossa porque Copetti Neves é proprietário de terras na região. No ano passado ele chegou a ser acusado pelo MST de grilagem de terra, no caso que envolvia uma área de 35 alqueires em Palmeira, a 50 quilômetros de Ponta Grossa.
O tenente-coronel Valdir Coppeti Neves, com 29 anos de carreira na PM, comandou durante muito tempo o Grupo Águia, tropa de elite criada, a princípio, para combater as quadrilhas especializadas em assaltos a ônibus de turistas e sacoleiros que seguiam para Foz do Iguaçu. Mais tarde, o grupo também foi encarregado de fazer a desocupação das áreas invadidas no Estado. Quando foi preso, Neves respondia pela chefia de Patrimônio e Transporte da PM.
Explosivos
Copetti já prestou dois depoimentos, ambos explosivos, à CPMI da Terra, um durante a passagem da comissão por Curitiba, no mês passado, e outro duas semanas depois, em Brasília. Em Curitiba ele fez acusações ao secretário Luiz Fernando Delazari, apontando-o como coordenador de um sofisticado esquema de escuta telefônica ilegal através do sistema Guardião, aparelho de uso exclusivo de órgãos públicos e ao qual aquela pasta e a Promotoria de Investigações Criminais – PIC – recorrem nas grandes investigações envolvendo principalmente tráfico de drogas, roubo de veículos e de carga, e os chamados "crimes do colarinho branco". A denúncia teve grande repercussão porque, segundo Neves, os telefones grampeados seriam de deputados e autoridades do poder Judiciário.