A CPMI dos Correios deve divulgar quinta-feira um relatório parcial apontando as fontes de recursos que financiaram o esquema do empresário Marcos Valério de Souza que, na avaliação do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), montou uma "operação perfeita" a fim de repassar recursos para o partido do governo, o PT.
A CPMI vai recomendar que Valério e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, sejam indiciados por crime de corrupção e improbidade. Até anteontem, Fruet já tinha elaborado 50 páginas do relatório que menciona todos os depósitos bancários de Valério. Depois de aprovado pela CPMI, o documento será encaminhado ao Ministério Público, Receita Federal, Polícia Federal e Tribunal de Contas da União (TCU) para que tomem as providências.
A expectativa em relação ao relatório é grande, porque a sociedade deseja saber de onde, afinal, o empresário Marcos Valério tirou todo o dinheiro que tinha nos bancos Rural e de Minas Gerais (dinheiro que de lá saía, em grande parte, para o próprio PT e também, é o que parece, para comprar votos de parlamentares, para apoiar o governo no Congresso?. As contas de Marcos Valério serviriam tanto para o caixa 2 do PT quanto para subornar políticos de outros partidos.
O deputado Gustavo Fruet, que é sub-relator de movimentações financeiras da CPMI dos Correios, disse que, se obtiver todas as informações ao longo da semana, vai estender também as punições aos agentes públicos que teriam atuado no esquema. Na semana passada, o relator da CPMI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), revelou uma das fontes que abasteceu o "valerioduto": o contrato da DNA, empresa do publicitário, com a Visanet.
Segundo ele, em uma operação de 2004, a DNA teria recebido adiantado R$ 10 milhões do Banco do Brasil – acionista da Visanet – e transferiu para o BMG que emprestou à Rogério Tolentino (do grupo de Valério) e, deste, o dinheiro foi para o PT. Fruet disse que, pela primeira vez, uma agência de publicidade, no caso a DNA, teria usado contratos com o governo como garantia bancária e, depois, "repassado o dinheiro para um partido do governo". "É uma operação perfeita sem nenhum risco para o publicitário."
Outras fontes que teriam alimentado o esquema são os contratos de publicidade com estatais, sobretudo com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), que o Tribunal de Contas da União (TCU), inclusive, já identificou irregularidades. Nas investigações, o deputado descobriu também que no contrato da DNA com o Banco do Brasil há uma cláusula dizendo que qualquer desconto tinha que ser revertido para o BB e não para a agência. Mas, tudo indica que a empresa incorporou as bonificações dos contratos, ou seja, a gratificação que os veículos de comunicação pagam para as agências em troca de anúncios.
Na semana passada, o presidente da CPMI, senador Delcidio Amaral, e o relator (deputado Osmar Serraglio reafirmaram que a tese de caixa 2 do PT é furada, que houve sim suborno de parlamentares e que está, sim, comprovado o uso de dinheiro público nesse passeio de muitos milhões entre as contas bancárias de Marcos Valério, os serviços publicitários por ele nem sempre prestados (ou superfaturados) a empresas estatais, e esse mar de lama de corrupção a que se chega agora.