Não convencido de que o ex-representante da SBM Offshore no Brasil, Júlio Faerman, voltará à CPI da Petrobras logo que for homologado seu acordo de delação premiada, o presidente da comissão, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), anunciou que pedirá à Justiça Federal que retenha o passaporte do executivo aposentado. Faerman deixou a comissão na manhã desta terça-feira, 9, sem revelar o que sabe sobre o esquema de corrupção na estatal.
Os deputados tinham conhecimento desde segunda-feira, 8, que Faerman não se pronunciaria na CPI porque tinha um habeas corpus concedido pela ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), o autorizando a ficar calado. Os depoentes que se recusam a falar aos deputados geralmente são dispensados, mas Faerman ficou aproximadamente duas horas ouvindo críticas e discursos dos membros da CPI.
Mesmo o depoente garantindo que voltaria à comissão sempre que fosse chamado, Motta anunciou que pedirá a retenção do passaporte de Faerman antes de dispensá-lo da sessão. A preocupação da comissão é que, com o passaporte em mãos, Faerman saia do País e não possa ser mais localizado, uma vez que mora em Londres. A CPI da Petrobras já teve dificuldades para localizá-lo anteriormente. O ex-representante da empresa holandesa, que não tem cidadania europeia, explicou que assim que for homologada a delação, seu passaporte será retido de qualquer maneira.
O ex-representante da companhia holandesa é acusado de pagar propina a funcionários da Petrobras. Ele fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) e isso foi levado em consideração pela ministra ao deferir o habeas corpus. O acordo foi firmado em 12 de maio deste ano e ainda aguarda homologação.
Delator da Operação Lava Jato, o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco admitiu ter recebido propina da SBM Offshore desde o primeiro contrato de navio-plataforma firmado entre a Petrobras e a companhia holandesa, em 1997, durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso.
O relator da comissão, Luiz Sérgio (PT-RJ), lamentou que a sessão de hoje tenha sido improdutiva. “Ninguém tem o histórico do processo de corrupção como ele. São informações que podem esclarecer todo o mecanismo”, comentou o petista.
Em represália ao silêncio, os deputados pediram que fossem agendados o mais rápido possível os depoimentos de Marcello e Eline Faerman e Luiz Eduardo Barbosa, filhos e sócio de Júlio Faerman, respectivamente. Não está descartada quebra dos sigilos da família Faerman.
Hoje Faerman seria ouvido na condição de investigado. Ele deverá ser reconvocado assim que for homologado seu acordo de delação premiada.