Quarenta e cinco dias depois de ter sido protocolada na Mesa Diretora do Senado, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar supostas irregularidades na Petrobras e na Agência Nacional de Petróleo (ANP) não saiu do papel – e dificilmente será instalada esta semana. A pouco mais de um ano para as eleições gerais, a ordem do Planalto é impedir o funcionamento da comissão. No lugar da CPI da Petrobras, o PMDB do Senado articula a instalação esta semana da CPI do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
Com essa estratégia, a expectativa dos governistas é conseguir desviar as atenções da crise do Senado e da pressão para que o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), se afaste do cargo. “Não tenho nada a ver com a CPI do DNIT. Nossa preocupação é instalar com rapidez a CPI da Petrobras”, afirmou ontem o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN). Ele anunciou que os democratas vão entrar em obstrução, impedindo votações no plenário do Senado, caso o governo impeça a instalação do inquérito da Petrobras esta semana.
O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio Neto (AM), confirmou sua disposição de entregar a relatoria da CPI das Organizações Não Governamentais (ONGs) para os governistas. Foi a condição imposta pelo governo para a instalação, no fim de junho, da CPI da Petrobras. O governo pretende impedir o funcionamento da CPI da Petrobras, arrastando a polêmica em torno de sua instalação até o recesso parlamentar, que começa a partir de 20 de julho. Se essa artimanha der certo, os governistas estão confiantes de que conseguirão sepultar definitivamente a abertura do inquérito para investigar eventuais irregularidades na estatal.
Os senadores do PMDB deram o aval para o funcionamento da CPI do DNIT com o objetivo de desviar o foco da crise do Senado. A avaliação de senadores peemedebistas é que a investigação sobre eventuais desmandos no setor de transportes dificilmente atingirá o partido, que há oito anos não comanda mais a área. Além disso, no governo Fernando Henrique Cardoso o setor foi comandado por peemedebistas que estão hoje na Câmara, como o ex-ministro dos Transportes, deputado Eliseu Padilha (RS).
Ao impedir a instalação da CPI da Petrobras, os peemedebistas querem também ter garantias de que o PT e os partidos da base aliada continuarão apoiando a permanência de Sarney à frente do Senado. O apoio é essencial para frear o movimento pelo seu afastamento, diante dos sinais do DEM de reavaliar a sustentação política que tem dado ao presidente da Casa.