Após um período sem ouvir depoimentos, os membros da CPI do Banestado realizaram ontem uma nova audiência pública. A Comissão está investigando os contratos de câmbio irregulares da agência de Grand Caymann, que geraram prejuízos para o banco.
Ontem, foram ouvidos os depoimentos de Maria Cristina Ibraim Jabur, sócia da Jabur Toyopar Indústria e Comércio; Sérgio Fontoura Marques, sócio-proprietário da Redran Construtora de Obras; e Ricardo Franczyk, ex-gerente da agência Grand Caymann. Maria Cristina e Marques, que fizeram empréstimos no banco de US$ 1,5 milhão e US$ 1 milhão, respectivamente, disseram durante o depoimento que o Banestado não realizou os procedimentos normais de cobrança.
Maria Cristina será reconvocada para amanhã, já que sua declaração de que não tinha conhecimento do empréstimo efetuado pela Jabur não teve sustentação. Isso porque a CPI detém documento, datado de agosto de 1998, onde ela assina, junto com Alberto Youssef, a realização da operação. Youssef também será convocado para prestar esclarecimentos. De acordo com o deputado Mário Bradock (PMDB), relator da Comissão, causou estranheza o pagamento por parte de Maria Cristina, de duas parcelas, num total de cerca de US$ 300 mil, para amortizar o empréstimo, segundo a sócia da Jabur, “não assumido”.
Sérgio Fontoura Marques destacou que a Redran realizou empréstimo normal através da agência de Grand Caymán, no valor de US$ 1 milhão, em agosto de 1998. Marques salientou ter pago cerca de US$ 176 mil em dezembro de 1999 relativos a juros, ficando adimplente com o banco até dezembro de 2000. Segundo ele, após esse fato o Banestado não efetuou qualquer procedimento de cobrança.
Discordância
O ex-gerente da agência Grand Caymán, Ricardo Franczyk, também prestou depoimento, na qualidade de colaborador da CPI. Ele destacou que os empréstimos que foram feitos cumpriram a regulamentação do banco, mas disse que não concordou com a forma como foi determinada pelo diretor Gabriel Nunes Pires Neto e pelo gerente Ércio dos Santos, a transferência dos valores para outros bancos norte-americanos. Franczik, que atualmente exerce as funções de consultor de empresas, já havia prestado depoimento à CPI em setembro de 2000.
Já o convocado Gabriel Nunes Pires Neto, ex-diretor de Câmbio e Operações Internacionais, apresentou-se acompanhado de seu advogado, afirmando que se reservava ao direito constitucional de não fazer declarações. Mesmo assim, o presidente da comissão, deputado Neivo Beraldin (PDT), solicitou que as perguntas fossem lidas.
Agenda
Para a sessão de hoje, estão sendo aguardados Arlei Mário Pinto de Lara e Jackson Ciro Sandrini (diretores do Banestado), Luiz Antônio Eugênio de Lima (gerente de divisão da Banestado Leasing), Euzir Baggio (funcionário) e de representantes das empresas Indústria Trevo Ltda. e Grupo Olsen, para prestar depoimentos sobre as operações da Banestado Leasing, que ocasionaram prejuízos da ordem de mais de R$ 500 milhões.
E na quarta-feira também haverá reunião, quando novamente será enfocada a Banestado Leasing, porém em irregularidades relativas ao contrato com a empresa Aspen Park.
Ex-funcionários do Banestado depõem
A Comissão Parlamentar de Inquérito Mista do Banestado no Congresso Nacional reúne-se hoje para ouvir os depoimentos de quatro ex-funcionários do banco: Eraldo Ferreira, Ricardo Franczyk, Valdir Antônio Perin e Valderi Werle, lotados nas agências de Curitiba (PR), Ilhas Cayman, Nova York (EUA) e Foz do Iguaçu (PR), respectivamente.
Em requerimento para a convocação de Eraldo Ferreira, o presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), e o relator, deputado José Mentor (PT-SP), lembram que a comissão foi criada para investigar a evasão de divisas, com destaque para as operações realizadas a partir de Foz do Iguaçu, por agências dos bancos Real, Banco do Brasil, Banestado, Araucária e Bemge, que receberam autorizações especiais do Banco Central para acolherem depósitos em espécie, sem identificação de origem, visando à conversão em moeda estrangeira para remessas ao exterior.
O presidente e o relator afirmam ainda que o Banestado foi responsável por expressivo volume de transferências ao exterior, cabendo investigar as irregularidades constantes dos processos administrativos abertos pela fiscalização cambial e os motivos que levaram à liquidação da instituição pelo Banco Central. “A presente convocação – acrescentam – tem como um de seus objetivos proporcionar à CPI acesso a informações fundamentais relacionadas aos procedimentos do Banestado em relação às remessas para o exterior.”
A convocação de Ricardo Franczyk também foi solicitada por Antero e por Mentor, que subscrevem igualmente requerimento para a convocação de Valdir Antônio Perin, ex-gerente da agência do Banestado em Nova York. Com os mesmos argumentos utilizados no requerimento de convocação de Eraldo Ferreira, o presidente e o relator observam que é absolutamente oportuna a convocação de ex-dirigentes e funcionários do Banestado para prestar depoimento à CPI, “especialmente no intuito de permitir-lhes que colaborem com os trabalhos de investigação”.
Já o requerimento para convocação de Valderi Werle foi apresentado pelo deputado Eduardo Valverde (PT-RO). Na justificação, o parlamentar afirma que, de acordo com denúncias feitas pelo Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria da República em Foz do Iguaçu, Werle autorizou a abertura de inúmeras contas fraudulentas, em um mesmo período, enquanto esteve à frente da gerência da agência Foz do Iguaçu do Banestado.