CPI decide convocar presidente do Itaú

Como não conseguiu receber qualquer dos documentos requisitados até agora, a CPI do Banestado na Assembléia Legislativa decidiu convocar para depor o presidente e diretores do Banco Itaú, provavelmente amanhã, em função da aproximação do recesso de meio de ano. Segundo o presidente da comissão, deputado Neivo Beraldin (PDT), já foram oficiados vários pedidos de documentos que ficaram em poder do banco e os responsáveis têm se negado sistematicamente a fornecê-los sob a alegação de que estão protegidos por sigilo bancário. Á tarde, na sessão plenária, Beraldin apresentou requerimento pedindo a prorrogação do prazo de duração da CPI por mais 60 dias, a contar do dia 16 de agosto

As contas CC-5 e a suspeita de lavagem de dinheiro foram os principais temas da reunião que a comissão fez ontem para ouvir o ex-diretor de câmbio e ex-vice-presidente do Banestado Aldo de Almeida Júnior e o ex-gerente da agência do banco em Nova York, Valdir Perin. Almeida estranhou as cifras levantadas pela Polícia Federal, dando conta de que foram lavados através da agência de Nova York US$ 14,9 bilhões, só no período de 1996/97. Ele apresentou cópias de relatórios do Sisbacen – Sistema de Informações do Banco Central – onde os valores apontados como movimentados pela CC-5 do banco estatal paranaense não ultrapassam os US$ 3 bilhões. Apresentou também cópia de resolução de diretoria datada de 9 de maio de 1997, determinando o encerramento de várias contas apontadas como irregulares por auditoria interna, entre elas a do doleiro Alberto Youssef.

Também foram ouvidos ontem Antônio Carlos Lopes, superintendente de poder público do banco Itaú, César Antônio Fávaro, gerente da secretaria geral do Banestado, Eugênio Stefanello e Paulo Janino Júnior, da Ambiental Paraná Florestas, empresa de reflorestamento que integrava o antigo conglomerado.

Lavagem de dinheiro

O perito da Polícia Federal Renato Barbosa,lembrou que o levantamento do Sisbacen não considera depósitos inferiores à R$ 10 mil e desta forma poderia não refletir a verdadeira movimentação da carteira de câmbio do banco estatal.

Almeida também entregou à CPI cópias de determinações da direção do banco no sentido de estabelecer normas mais rígidas na identificação de seus clientes e nas operações.

Não soube, entretanto, precisar os motivos que levaram a diretoria a pedir o encerramento da conta de Youssef e outras, mas ponderou que algum tipo de irregularidade foi detectado para justificar a medida. Segundo ele, sempre que as auditorias apontavam irregularidades ou um movimento incompatível da conta, ela era submetida a um inquérito administrativo. Vários desses inquéritos teriam sido realizados durante sua gestão na Diretoria de Câmbio. Destacou ainda que o Banco Central tinha uma equipe permanente de fiscalização dentro do Banestado, com pleno acesso a toda movimentação que lá ocorria.

O delegado da Polícia Federal José Francisco Castilho Neto e o perito Renato Barbosa, que estão assessorando a comissão, estranharam o fato de o Banestado não gravar as operações da Mesa de Câmbio, uma praxe nas demais instituições bancárias como medida de segurança. Almeida ponderou que isso não significava falha de controle, uma vez que eram operações interbancárias comunicadas on-line ao Banco Central, além de outros registros nas agências de origem. No final de seu depoimento, Aldo Almeida frisou que em 1998 a própria diretoria do Banestado sentiu necessidade de adotar providências drásticas e decidiu, espontaneamente, fechar a agência nos Estados Unidos.

Sigilo bancário

Os peritos da Polícia Federal insistiram com o ex-gerente da agência de Nova York, Waldir Perin, sobre os benefícios de recorrer à Lei das Testemunhas e delatar todo o esquema de lavagem de dinheiro que teria ocorrido durante sua gestão. Ele voltou a recusar, afirmando que agiu sempre dentro das normas legais e não tem o que temer. Continuou invocando o sigilo bancário para omitir nomes, datas e outros detalhes. Mas admitiu que o doleiro Youssef fez pelo menos uma visita à agência de Nova York; que conhecia Afonso Celso Braga, do banco paraguaio Integração, que tinha conta no Banestado, e que a OCC, órgão de fiscalização dos bancos estrangeiros nos Estados Unidos, recomendou medidas restritivas em relação a clientes cujas contas davam entradas e saídas vultosas e freqüentes de recursos. Um deles era um exportador de carne do Paraguai que movimentava altos valores Também admitiu golpe aplicado por um contador americano de nome Alex na agência de Nova York, e que a agência teve que cobrir empréstimo feito a empresa paulista pela agência Grand Cayman de valor “inferior a US$ 1 milhão”. Mas acrescentou que a operação tinha garantias reais no Brasil, com hipoteca sobre a própria sede da empresa.

Reflorestamento

Eugênio Stefanello e Paulo Janino foram inquiridos pela CPI sobre transação envolvendo a empresa Madeirita, que cedeu ao Banestado, em dação em pagamento, floresta localizada em Inácio Martins.O imóvel quitou dívida no valor de R$ 3 milhões e acabou sendo vendido pela Ambiental Paraná Florestas à Compensados Sutak e Guararapes, sem licitação. O edital de leilão chegou a ser publicado, mas foi cancelado em seguida. Stefanello explicou que o imóvel não era do banco, e sim da Agência de Fomento do Estado, que contratou a Ambiental Paraná apenas para fazer a avaliação. Hoje a CPI volta a se reunir às 10h para ouvir representantes do banco CCF, que atuou na avaliação do Banestado para privatização.

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