Instalada em agosto deste ano para apurar crimes cibernéticos como pedofilia e delitos ligados ao sistema financeiro, a CPI dos Crimes Cibernéticos da Câmara dos Deputados foi contaminada pela polarização político-partidária entre governistas e oposição e descambou seu foco para apurar como operam os grupos pró e anti governo na internet.

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Opositores ao governo da presidente Dilma Rousseff passaram a focar seu trabalho na comissão em apurar possível financiamento do Planalto a sites piratas e publicidade digital e transferência de recursos para agências ligadas ao PT e ao governo. Parlamentares de esquerda, por sua vez, passaram a pedir que a CPI investigue a atuação de grupos pró-impeachment de Dilma.

Requerimentos

Aproveitando o pouco olhar do governo à CPI, oposicionistas convocaram, por exemplo, o publicitário Jefferson Monteiro, autor do perfil “Dilma Bolada”, que rompeu recentemente com o governo. Ele foi acusado de receber R$ 20 mil por mês do PT para promover a imagem da Dilma e criticar adversários políticos dela. Monteiro negou as denúncias na CPI.

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De acordo com reportagem veiculada na imprensa, os pagamentos ao publicitário eram feitos por meio da agência de comunicação Pepper Interativa, suspeita de receber recursos considerados suspeitos do PT. A companhia também é alvo da oposição na CPI, que apresentou requerimentos convocando a proprietária, Danielle Fonteles, a depor na comissão e pedindo a quebra do sigilo telemático da empresa.

Entre os requerimentos, a oposição também pediu quebra de sigilo fiscal e bancário da Editora 247 e do editor responsável pelo site brasil247.com entre 2005 e 2015. Autor do pedido, o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE) usa como justificativa matéria do jornal O Estado de S.Paulo mostrando que o site teria recebido R$ 120 mil relativos à propina destinada ao PT desviados de contratos da Petrobras.

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O sub-relator da CPI, deputado Sandro Alex (PPS-PR), chegou a apresentar relatório no qual acusa o governo de, ao lado de grandes empresas privadas, anunciar em sites piratas. Convocado a depor na comissão, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, negou que o governo pague pelas propagandas. Segundo ele, o Executivo é vítima do uso indevido das marcas do governo federal.

Outra frente de opositores para atingir o governo foi apresentar requerimento pedindo ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) cópia de todos os documentos relativos à Operação Acrônimo, que investiga irregularidades de campanha e suposto recebimento de propina pelo governador de Minas, Fernando Pimentel (PT-MG), quando ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Pró-impeachment

Ideologicamente mais próximo do governo, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), por sua vez, apresentou requerimentos convocando representantes dos movimentos pró-impeachment Revoltados On Line e Movimento Brasil Livre (MBL) para depor na CPI. No caso do MBL, o parlamentar também pediu o “compartilhamento” das movimentações financeiras do grupo no último ano.

Membro da CPI, Wyllys decidiu deixar o colegiado na semana retrasada, alegando que os trabalhos da comissão foram “desvirtuados” pela “polarização político-partidária” que se acentuou após as eleições presidenciais de 2014. “Lá não seria produtivo, por isso resolvi sair. Se é para viver esse clima de impeachment, eu fico aqui no plenário”, explicou.

Questionado se não tinha contribuído para essa polarização ao pedir a convocação de grupos pró-impeachment, Wyllys justificou que o pedido foi embasado em um dossiê que reúne crimes cibernéticos praticados por eles. “Se a CPI está chamando quem não pratica crime, como a Dilma Bolada, por que não chamar um grupo que de fato faz ataques orquestrados?”, questionou.