O Comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, admitiu nesta quinta-fiera (13) após a cerimônia do dia do marinheiro que o programa de reaparelhamento das Forças Armadas, assim como o reajuste salarial da categoria, poderão ser atingidos pelos cortes do Orçamento em função da perda de recursos da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) pelo governo, ou o programa nuclear da Força. "Poder, pode", reconheceu o comandante que, no entanto, "tem esperanças" de que o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a Defesa "continue sendo uma prioridade" seja preservado, apesar de saber que o governo vai ter de refazer seu Orçamento.
Sobre um possível corte no programa nuclear da Marinha, o almirante Moura Neto disse que "os temores sempre existem". Lembrou, porém, que a Força "tem a expectativa de que ele (o programa nuclear) seja mantido" como está previsto, com o repasse de R$ 130 milhões ao ano, durante sete ou oito anos, para que se chegue a R$ 1 bilhão de investimentos que faltam para concluir a planta nuclear.
"O que o presidente garantiu e o Ministro da Defesa nos colocou é que mesmo que haja cortes orçamentários, os R$ 130 milhões por ano estarão garantidos. Por isso, eu tenho quase certeza de que o programa nuclear da Marinha continuará no ano que vem, retomando seu ciclo normal, sendo concluído em sete ou oito anos dependendo dos recursos", afirmou o almirante, em entrevista, depois da solenidade de entregar a medalha do Mérito Tamandaré a 120 pessoas, entre elas quatro senadores. Um dos agraciados foi o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que votou contra a CPMF e ajudou a derrubar a prorrogação da emenda.
Em sua mensagem à Marinha, o presidente Lula classificou o programa como prioritário, lembrando sua importância para a soberania e o desenvolvimento tecnológico do País. "Estou certo de que o Brasil deve produzir industrialmente o combustível nuclear – uma vez que a tecnologia do ciclo do enriquecimento do urânio já foi dominado pela Marinha -, bem como construir um reator nuclear", diz Lula em sua mensagem lida na cerimônia.
Questionado se as Forças Armadas estavam dispostas, a mais uma vez, serem sacrificadas em seus orçamentos, caso haja necessidade, por causa dos cortes pela falta da CPMF, o comandante respondeu: "são as Forças Armadas do Brasil. Se por acaso a decisão do governo for priorizar outras áreas, elas reconhecerão as prioridades governamentais". E avisou: "mas temos esperança de que nós seremos incluídos entre as prioridades do governo".
