A “farra das propinas” descoberta e reprimida pela Polícia Federal (PF) no mês passado em Dourados (MS) deixou a prefeitura do município de caixa zero e dívidas impagáveis. Para a prefeita interina, Délia Razuk (PMDB), “a administração está travada, sem recursos até para pagar o 13º salário dos 7 mil funcionários municipais, o que já deveria estar garantido há pelo menos um mês”.
Ela lamentou a situação herdada há pouco mais de uma semana, quando assumiu o cargo no lugar do prefeito Ari Artuzi (sem partido). Ele é apontado como chefe de um esquema de corrupção envolvendo 60 pessoas indiciadas em processos criminais que já estão na Justiça. Além do prefeito, 11 vereadores, cinco secretários municipais, funcionários da prefeitura e empresários foram acusados pelo Ministério Público Estadual.
Os prejuízos causados pelo grupo aos contribuintes estão sendo calculados pela Controladoria Geral da União (CGU). Até agora, dos 53 contratos analisados, 36 contêm irregularidades que somam um “rombo” de R$ 25 milhões. Segundo o delegado da PF em Dourados, Bráulio Galloni, “apenas na compra de medicamentos foram desviados entre R$ 16 milhões e R$ 17 milhões, envolvendo o Hospital Evangélico, que é particular”.
Faltam ainda levantamentos de contratos de setores como o da Educação, cujo titular, o secretário Idenor Machado, informou que, preliminarmente, os desvios chegam a R$ 20 milhões. Por esses e outros desfalques, “a administração pública está em colapso”, conforme disse o secretário municipal de Finanças, o economista e advogado João Azambuja. Segundo ele, a crise atinge todos os setores da prefeitura.
Limpeza pública, compra de medicamentos para hospitais e postos de saúde, obras públicas e outras áreas poderão ser atingidas a partir deste mês pelo impacto financeiro. Azambuja estima que é necessário um aumento de no mínimo R$ 15 milhões por mês, no volume de todo o dinheiro que entra nos cofres da prefeitura, para atender aos compromissos.