O clima tenso da negociação, que se arrasta já por alguns meses, entre os trabalhadores dos Correios e a empresa ganhou um novo capítulo na última semana, e a dificuldade de entendimento entre as partes ainda pode levar a categoria a entrar em greve. Porém, conforme decisão das assembleias realizadas ontem, a categoria aceita o reajuste, mas mantém o ‘estado de greve’ até que fique definido o imbróglio envolvendo o plano de saúde.
Em ‘estado de greve’ desde maio, os funcionários passaram a receber mensagens em seus celulares privados no período da noite, comunicados e até um vídeo, gravado pelo presidente da ECT, Carlos Fortner, com um apelo para que a categoria aceitasse a proposta de reajuste oferecido pela empresa.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Paraná (Sintcom-PR), a proposta, intermediada o Tribunal Superior do Trabalho (TST), é de 3,68% de reposição, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), o que não representaria um aumento real. O problema, ainda segundo o sindicato, é que a cobrança de mensalidade (2,5% do salário bruto do funcionário) e o aumento da coparticipação (30% do valor dos procedimentos médicos) no plano de saúde têm comprometido aproximadamente 70% da renda dos trabalhadores.
Os comunicados aos funcionários passaram a ser enviados na última quinta-feira (9). Nele, a empresa destaca o momento “delicado” que atravessa e revela uma pesquisa foi feita com 31 mil funcionários dos Correios, em que o acordo teria aprovação de 70% deles.
O vídeo gravado por Fortner reafirma a necessidade do acordo, para que não sejam perdidos direitos já acordados entre empresa e trabalhadores. “Sem um novo acordo, o pagamento será feito exclusivamente sobre os benefícios previstos na CLT. Com isso, serão perdidos o adicional de 70% de férias, aquênio, vale cultura, entre outros”, diz parte da mensagem do presidente dos Correios.
O presidente do Sintcom, Marcos Rogério Inocêncio, considera que o vídeo é uma forma de ameaça. “É para fazer acreditar que qualquer migalha ofertada é uma conquista”, sentenciou.
A estratégia da empresa, conforme o presidente, seria ameaçar a retirada dos direitos previstos no acordo coletivo da categoria para passar a impressão aos funcionários que sua manutenção seria uma conquista. “Ameaçar os trabalhadores com ataques que retiram direitos históricos para depois ofertar a manutenção de direitos, levando a acreditar que mantendo tudo como está já é uma vitória”, disparou.
Além das mensagens e do vídeo, circulou pelas unidades dos Correios uma pesquisa, que obrigava os trabalhadores a responder uma sondagem sobre a proposta da empresa e pedia identificação e assinatura do trabalhador em um formulário impresso. Daí os altos índices de aceitação da proposta na pesquisa da empresa, de acordo com o sindicato.
Inocêncio acredita que a tática é coagir os trabalhadores. “Se antes tínhamos o voto de cabresto, agora estão aplicando a proposta de cabresto, onde o trabalhador é coagido individualmente para aceitar as imposições da empresa”, afirmou.
Para ele, os trabalhadores se mostram descontentes com a proposta e as maiores chances são de que a categoria entre de fato em greve. “Está todo mundo revoltado. Vamos colocar a discussão em assembleia, mas a chance maior é de que vamos entrar em greve sim”. O prazo para que um acordo seja selado, determinado pelo TST, é nesta quarta-feira (15).
Correios
De acordo com os Correios, a busca da empresa é por “um acordo equilibrado, positivo para os empregados e de acordo com o atual momento de recuperação financeira da empresa”, além de evitar a greve, que “seria extremamente prejudicial não só para a empresa e seus trabalhadores, mas também para a população”.
A ECT ressalta que usa canais internos para se comunicar com os trabalhadores, para manter a atualização sobre as negociações e acordos firmados. Assim, o vídeo do presidente e o informativo, enviado por e-mail, além das mensagens, servem como “esclarecimentos específicos sobre a vigência do último acordo e a atual proposta do Tribunal Superior do Trabalho”.
Já a pesquisa, feita com os trabalhadores, seria para medir a aceitação da proposta, mas foi feita de forma que não seria possível identificar quem participou e suas respostas, de acordo com o comunicado.
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