Mas a posição dos delegados do Paraná é o indicativo de que o partido está aberto à negociação de alianças para reforçar o palanque à reeleição do governador Roberto Requião. Os caminhos apontados pelos peemedebistas são três: Uma coligação com o PT ou com o PSDB e, na pior das hipóteses, se não houver acordo com uma das duas siglas, o PMDB vai de chapapura.
Requião, assim como o presidente estadual do PMDB, deputado Dobrandino da Silva, e o vice-presidente estadual, Nereu Moura, não compareceram à convenção e foram substituídos por suplentes. Mas a lógica que prevaleceu no voto dos delegados do PMDB do Paraná foi simples: sem candidato próprio à presidência da República, o partido fica livre no Paraná para negociar uma aliança que reforce a candidatura à reeleição de Requião.
Na hipótese de um acordo com o PSDB do Paraná, Requião recebe o apoio do partido e, em troca, sobe ao palanque com Geraldo Alckmin. A segunda opção peemedebista é ter o PT no seu palanque, no primeiro ou no segundo turno da eleição. A retribuição teria que ser o apoio de Requião à provável candidatura, à reeleição, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O secretário-geral do partido, Luiz Claudio Romanelli, disse que se prevalecer a tendência da liberdade de alianças – a decisão final será tomada somente na convenção nacional marcada para o dia 11 de junho – o partido vai ter que sentar para discutir o assunto no estado. Romanelli avaliou que há uma divisão entre as alas que são pró-Lula e os grupos mais simpáticos aos tucanos. "Vamos ter que abrir um princípio de discussão interna. O que tivemos hoje é o indicativo do que ocorrerá no dia 11 e é sobre isso que vamos ter que debater", afirmou Romanelli, informando que integra o grupo dos que acham possível se reaproximar do PT no Paraná. "Nós vamos ter que fazer uma discussão séria com o PT do Paraná. Continuo não vendo motivos para irmos separados", afirmou.
O vice-governador Orlando Pessuti disse que, nas atuais circunstâncias, o partido tem que pensar na questão local e deixar de lado a disputa presidencial. "Se na convenção do dia 11, ficar liberado em cima, vamos ter que conduzir as articulações pensando na disputa estadual. E o que nós temos melhor sinalizado é a conversa com o PSDB", avaliou. O vice-governador disse que a dificuldade com o PT é que o partido já informou que tem candidato próprio, justificou.
Pessuti afirmou que a convenção de ontem não empolgou o partido. Os discursos dos pré-candidatos, Anthony Garotinho e Itamar Franco, foram ouvidos sem ânimo. O único a arrancar aplausos unânimes foi o senador Pedro Simon, que defendeu a candidatura própria como uma forma de impedir que a ala governista leve o PMDB a reboque do PT.
Requião preferiu não participar da convenção. A justificava oficial fornecida por sua assessoria é que o fato de o partido ter se concentrado na discussão de um nome e não de um programa de governo afastou Requião da ala pró-candidatura própria. A avaliação é que a direção nacional e os pré-candidatos atropelaram o processo natural que seria, no entendimento do governador, primeiro a formulação de um programa e, depois, a escolha do nome.
Entre um candidato sem programa e a não-candidatura, Requião optou pela segunda situação. Uma opção que também beneficia o projeto de reeleição do governador que fica à vontade para discutir suas alianças sem as amarras nacionais.
Garotinho comemora liminar
Brasília (AE) – O ex-governo do Rio Anthony Garotinho e seus partidários fizeram de tudo para atrapalhar a convenção realizada ontem pelo PMDB para definir se terá ou não candidatura própria à presidência da República. Pré-candidato ao Planalto, Garotinho chegou às 11 horas ao evento, realizado no Senado, e provocou constrangimento ao exibir, de forma vitoriosa, uma liminar concedida pelo desembargador Joaquim Costa Carvalho, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. O documento suspendia os efeitos, mas não a realização, da convenção que mal tinha começado.
O ambiente foi tenso desde o início. Pouco antes da chegada de Garotinho, o grupo do ex-governador tentou adiar o início da votação, alegando que não havia convencionais em número suficiente. Na véspera, a cúpula do partido definira que a votação só começaria com a presença de pelo menos 50% dos convencionais, ou seja, 264 num total de 528. O presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), decidiu abrir os trabalhos mesmo assim.
A briga ganhou fôlego com uma provocação feita pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL). Ao chegar à convenção, Renan afirmou que Garotinho não tem condições de ser candidato. "Garotinho que não come não cresce", ironizou, numa referência à greve de fome feita pelo ex-governador e encerrada na quinta-feira depois de 11 dias.