Temer, Requião e Quécia |
O presidente nacional do PMDB, deputado federal Michel Temer, está calculando que a proposta de afastamento do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sairá vitoriosa da convenção do partido, marcada para o dia 12 em Brasília, por uma vantagem de 281 votos.
Dos 711 convencionais do partido, o presidente nacional acredita que 430 votarão com a direção nacional pela saída do governo. No placar dos favoráveis à tese da independência, o presidente nacional do partido contabiliza o PMDB do Paraná. Temer e o presidente estadual do PMDB de São Paulo, ex-governador Orestes Quércia, reuniram-se ontem em Curitiba, no Hotel Rayon, com integrantes da executiva regional, a bancada estadual, o governador Roberto Requião, o vice-governador Orlando Pessuti e secretários peemedebistas, que expressaram a tendência do partido de votar alinhado à tese da direção nacional. A posição será oficializada na próxima segunda-feira, dia 6.
Temer afirmou que, informalmente, a maioria dos estados já expressa a mesma inclinação pelo distanciamento do governo. Para o presidente nacional do partido, a convenção nacional irá decretar a saída do governo e o projeto de lançamento de candidatura à presidência da República. O dirigente nacional considerou "naturais" as tentativas de uma ala do partido, liderada pelo presidente do Senado, José Sarney, de adiar a convenção sob o argumento de que uma decisão precipitada do PMDB pode afetar a governabilidade do país.
O presidente peemedebista afirmou que não está sendo proposto o rompimento com o governo e logo, não há razão para que a independência do PMDB seja vista como uma ameaça à estabilidade do governo. "Nós não vamos fazer oposição ao governo. O partido tem um projeto próprio para 2006 e para isso tem que sair do governo. No parlamento, vamos continuar garantindo a governabilidade", disse.
Interferências
O ex-governador Orestes Quércia disse que foi um dos primeiros a apoiar a candidatura de Lula à presidência da República, abrindo uma dissidência no PMDB em 2002, mas que o partido não pode ser usado para os projetos eleitorais do PT. "Na reunião que Lula fez com senadores peemedebistas há algumas semanas, praticamente confessou que quer usar o PMDB na reeleição dele. O PMDB, disse ele, pode ter candidato à Presidência, mas desde que seja um candidato competitivo, quer dizer, está escolhendo o candidato contra ele", comentou.
Para Quércia, há um consenso no PMDB de que é difícil manter a aliança com o PT.
"Hoje, a convicção que temos é que é muito difícil a aliança com o PT. O PT é muito exclusivista. Esta é a realidade. Nós precisamos ter independência do PT, ter vida própria, candidato a presidente, buscar aquilo que o PMDB sempre teve na sua história. O PMDB foi o grande articulador da redemocratização do país, das eleições diretas, um partido que tem história, muito mais que o PT", comentou. Quércia acrescentou que a proposta de mudança do nome da sigla de PMDB para MDB é uma tentativa simbólica de o PMDB se reencontrar com as suas origens.
A política econômica do governo Lula também foi alvo de ataques do ex-governador paulista, que falou de paralisação do país e de empobrecimento da população. "Uma das queixas que temos é que o governo atual que foi eleito combatendo a política econômica do governo anterior está adotando a mesma política. Não tem cabimento isso. O país está paralisado, o empobrecimento é muito grande. A verdade é que a política econômica é nociva para o país e o PMDB não pode ficar no governo", citou.
Vargas condena afastamento
O presidente regional do PT, deputado André Vargas, desaprovou a decisão do PMDB paranaense, que vai defender na convenção nacional do dia 12 uma postura de independência em relação ao governo federal. Ele considera equivocada a medida que afasta os aliados desde 2002. "Entendemos que o melhor para o Brasil e para o Paraná seja a continuidade da aliança", lamentou o parlamentar.
Ele disse que vai esperar a convenção peemedebista para que seu partido se posicione no dia 18, quando o diretório estadual do PT irá se reunir. Disse acreditar num desfecho satisfatório para a crise na relação PT-PMDB. "Afinal, esse é o melhor momento para os dois partidos buscarem um entrosamento que será essencial para o Brasil. Esperamos que aqui no Estado as conversas sejam mais harmônicas e equilibradas e culminem numa relação respeitosa e benéfica para o Paraná". Antecipou, porém, que se o afastamento se concretizar, vai refletir na postura da bancada estadual petista: "Vamos nos comportar da mesma maneira em relação ao governo do Estado".
O primeiro-secretário da Assembléia Legislativa, deputado Nereu Moura (PMDB), que não participou da reunião do Hotel Rayon, também mostrou reserva em relação ao afastamento entre PMDB e PT. Defensor da manutenção da aliança até em função das afinidades ideológicas entre as duas legendas, Moura alertou para o problema que isso poderá causar ao governador Roberto Requião na Assembléia: "O apoio da bancada petista é fundamental para garantir a aprovação das matérias de interesse do governo. Se deixarmos de contar com esse apoio, teremos dificuldades nesse sentido", previu. (Sandra Cantarin Pacheco)
Eunício se opõe à convenção
Brasília (AE) – O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, disse ontem que não é favorável à realização da convenção extraordinária do PMDB, marcada para o dia 12. "Acho que a convenção não vai acontecer nem deve acontecer. Senão, vai servir apenas para troca de desaforos", disse. Segundo Oliveira, seria "uma irresponsabilidade" se o partido deixasse o governo. "O apoio não é somente ao presidente Lula, é ao Brasil", afirmou. "No momento em que o País apresenta crescimento sustentável, o PMDB vai tirar a sustentação do governo? A serviço de quê, a serviço de quem?", questionou.
Ele disse que a divisão na legenda é clara. "Todo mundo sabe quais são os grupos e quem apóia quem dentro do PMDB. Então, não precisa explicitar isso numa convenção." Segundo Oliveira, existe uma lista de 20 senadores peemedebistas que atestam a vontade de continuar apoiando a administração federal. Esta seria também, de acordo com o ministro das Comunicações, a posição da maioria da bancada na Câmara.
"Temos maioria nos diretórios regionais, na executiva nacional e no conselho de política". Oliveira disse que trabalhará até o dia 12 pelo entendimento entre os integrantes da sigla. "Eu espero que o bom senso prevaleça", afirmou.
Requião defende autonomia
O governador Roberto Requião defendeu ontem o fim do "apoio mecânico" ao governo federal durante a reunião com o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, e o ex-governador Orestes Quércia, em Curitiba. "Não é rompimento com o governo, mas acabar com o atrelamento, encilhamento, com o apoio mecânico. O partido tem que votar naquilo que acredita, não naquilo que não acredita, só porque tem dois ministros e meia dúzia de empregos", declarou o governador.
Requião não teme que a posição do PMDB do Paraná tenha algum impacto na participação do PT na base aliada do governo na Assembléia Legislativa. "Eu quero que o PMDB nacional faça a mesma coisa que eu quero do PT aqui. Nunca submeti o PT, nunca obriguei ninguém a votar comigo, nunca disse demito se não votar. É preciso votar com consciência. É assim que se faz política com decência", afirmou.
Os petistas, segundo o governador, têm toda a liberdade de voto na Assembléia Legislativa. Requião não acredita em represálias contra o seu governo pelo PT do Paraná e não vê perigo em que se reproduza aqui a posição dos petistas de Santa Catarina, que romperam com o governo do peemedebista Luiz Henrique da Silveira. "Eu não tenho medo de nada. Tem que votar no interesse do povo. O PT não é o Partido dos Trabalhadores? Então, tem que votar a favor dos trabalhadores", disse o governador, que também não vê prejuízos para o estado se o PMDB decidir pelo distanciamento do governo Lula. "O Estado perde? Não. Aliás, o Estado não ganhou nada até agora…", comentou.
Ainda conforme Requião, a relação entre o governo e o PT é diferente no Paraná. "Tenho muito prazer em ter o PT no governo e gosto muito do PT, mas não obrigo ninguém a votar com o governo contra a sua consciência. Mas como o esquema do governo federal é o encilhamento, atrelamento, obediência mecânica, isso tem que acabar. Porque é bom para o PMDB como partido e é bom para o Brasil. É uma prática política ultrapassada, velha, imoral, rejeitada", afirmou.
Sem cargos
O chefe da Casa Civil, Caito Quintana, afirmou que vai propor na convenção nacional que os ocupantes de cargos no governo federal sejam expulsos do partido se não quiserem se afastar de suas funções, caso a maioria decida pelo apoio crítico a Lula. O presidente estadual do partido, deputado Dobrandino Gustavo da Silva, também foi na mesma linha. "Quem ainda defende a manutenção da aliança e de cargos no governo federal sugiro que deixe o PMDB", enfatizou. (EC)