As imagens de milhares de brasileiros nas ruas em protestos podem atrapalhar o esforço do governo de tentar vender uma imagem positiva do Brasil ao exterior. Mas a reação do governo, que tem respeitado a legitimidade das manifestações, colabora para reforçar a imagem democrática do País. A opinião é da analista-sênior da consultoria internacional IHS, Juliette Kerr. “Em última análise, os riscos sobre a reputação do Brasil vão depender muito de como as autoridades lidam com os protestos”, diz.
“As imagens dos protestos certamente ajudam a minar os esforços do governo para usar a Copa das Confederações para mostrar o lado positivo do Brasil”, disse ao Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, a analista sobre o Brasil da consultoria IHS.
Juliette Kerr destaca que a reação das autoridades brasileiras contrasta com a recente reação do governo turco às manifestações naquele país. “Na Turquia, manifestantes foram classificados como ‘saqueadores’ e ‘extremistas’ pelo primeiro-ministro”, diz ao comentar que a reação brasileira é mais bem vista pelos investidores estrangeiros. “O fato de que os protestos no Brasil não são dirigidos diretamente às empresas estrangeiras também ajuda a minimizar os riscos de uma reação dos investidores”, avalia.
A analista reconhece que há focos localizados de reação mais forte nos Estados, mas, no geral, as autoridades têm respeitado as manifestações. “Embora tenha havido críticas à estratégia mais pesada usada pela polícia em São Paulo, a resposta do governo federal tem sido, até agora, bastante positiva, com a presidente reconhecendo o direito dos manifestantes de realizar um protesto pacífico”, afirma.
Juliette comenta ainda que os serviços públicos parecem estar à frente da lista de reclamações. “Os protestos também refletem profundas frustrações sobre como o dinheiro público é usado e sobre a qualidade dos serviços, principalmente o transporte público e a saúde.” Mas ela reconhece que a inflação mais alta também tem sua parcela de responsabilidade na insatisfação popular. “As preocupações mais amplas com a inflação ajudam a mobilizar manifestantes. O movimento também reflete em parte uma pesquisa recente que mostra que o governo de Dilma Rousseff experimentou a maior queda em popularidade desde que tomou posse.”
Questionada sobre as semelhanças entre os protestos no Brasil e na Turquia, a analista diz que ambos movimentos coincidem ao “refletir o sentimento geral de que a classe política está distante das preocupações da população”. Juliette Kerr observa, porém, que há diferenças: os protestos turcos são direcionados especialmente ao primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. “No Brasil, os protestos não são especificamente anti-Dilma”, diz.