Mais da metade do dinheiro que o PMDB fluminense recebeu de empresas sem intermediação de candidatos em 2012 foi doada por empreiteiras, incorporadoras e companhias ligadas à construção civil, segundo contas encaminhadas pelo partido ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio no fim de abril.
Dos R$ 8,305 milhões que a legenda captou diretamente de pessoas jurídicas – R$ 7,855 milhões para a campanha eleitoral e R$ 450 mil a título de “outros recursos” -, R$ 4,61 milhões (58,8%) vieram desses setores econômicos, diretamente beneficiados pela explosão do obras para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Os eventos são preparados pelas administrações peemedebistas de Eduardo Paes na capital e de Sérgio Cabral Filho no governo do Estado. As contribuições diretas ao partido foram quase 1/3 (29%) de toda a receita do PMDB-RJ no ano passado (R$ 28.792.156,88).
As contas não incluem dinheiro arrecadado por candidatos a prefeito e a vereador no Estado para suas campanhas, considerando apenas contribuições, que, por serem feitas ao partido, caem no caixa geral da legenda. Isso torna impossível determinar quais campanhas especificamente se beneficiaram – por isso, são chamadas de “doações ocultas”.
O recurso é legal, e sua contabilidade é à parte das campanhas, nos livros contábeis dos partidos. As construtoras foram origem de mais de 36% desses recursos (R$ 2,89 milhões); as incorporadoras, por 21% (R$ 1,65 milhão). Também há transportadoras, fábricas e até um banco, o BMG (R$ 750.000,00), como doadores. Entre construtoras e incorporadoras, destacam-se Cyrela (R$ 1,040 milhão) e Carioca Christiani Nielsen (R$ 250.000), entre outras. As maiores doações foram feitas pela empresa Praiamar Indústria e Comércio, uma fabricante de bebidas de Duque de Caxias: R$ 1,7 milhão.
A sessão fluminense do partido também foi alvo de forte apoio financeiro do seu comando nacional em 2012. A contabilidade do PMDB fluminense mostra que em 2012 o Diretório Nacional da agremiação lhe repassou R$ 19.848.106,97, dos quais apenas R$ 1.886.706,97 saíram do Fundo Partidário.
Todo o resto (mais de R$ 17 milhões) veio de “Outros Recursos” – possivelmente, dinheiro de doações ocultas à direção nacional, pelo menos em parte. Apesar das transferências, porém, o PMDB fluminense fechou 2012 no vermelho: o resultado líquido do exercício (ou seja, receita menos despesas) deixou um buraco (déficit) de R$ 180.849,78. O saldo acumulado continuou positivo (R$ 723.221,04), mas caiu em relação a 2011 (quando foi de R$ 947.206,98).
“Tem diversos tipos de doação”, disse por telefone o presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, que afirmou que, sem as contas na mão, teria dificuldade de comentá-las, por serem assunto técnico. “Provavelmente, essas doações foram feitas e saíram (o dinheiro foi gasto) no período de campanha e entraram nas contas do partido.” O apoio da direção nacional, segundo ele, foi canalizado para campanhas em grandes municípios do Estado.