Se depender da maioria dos senadores, o destino do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), começa a ser traçado hoje. Os 16 integrantes do Conselho de Ética do Senado se reúnem às 10 horas para discutir e votar o processo contra o peemedebista por quebra de decoro parlamentar. Dois relatores, os senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS), vão recomendar a cassação do mandato do peemedebista, mas o senador Almeida Lima (PMDB-SE) vai pedir a absolvição do colega de partido. Renan é acusado de recorrer ao lobista da empreiteira Mendes Júnior, para suposto pagamento de pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha.

continua após a publicidade

Está prevista uma guerra regimental no Conselho. De um lado, os aliados de Renan querem que o voto seja secreto. Acham que, com o anonimato, o senador teria mais chances. Mas, a oposição está disposta a brigar e ameaça não apresentar o relatório se o voto for fechado. Os defensores do voto aberto têm maioria no Conselho e podem ganhar se essa polêmica for a voto. No caso de o relatório recomendando a cassação ser aprovado hoje, segue depois para a Comissão de Constituição e Justiça. A palavra final será dada pelo plenário em votação secreta, conforme estabelece a Constituição.

A expectativa dos senadores é de que, se absolvido no plenário, Renan deixe a presidência. Acham que ele ficaria politicamente fragilizado. A crise política envolvendo o Senado vem se arrastando há três meses e chegou à exaustão. Até mesmo Renan, que comandou sucessivas manobras para retardar a votação do processo, dá sinais de cansaço e deseja um desfecho rápido. Ao longo do processo ele recusou todos os apelos para se licenciar do cargo. Impassível às pressões, apostou no tempo para esvaziar as investigações, na força do apoio do governo e na amizade dos colegas. Mas nada disso foi suficiente para amenizar o clima de tensão e retomar a credibilidade do Senado. A insistência de Renan em permanecer no comando da Casa acabou constrangendo os colegas, que se revezaram na tribuna para manifestar preocupação com a imagem da instituição.

Aliado do Planalto, Renan recebeu apoio do presidente Lula, mas não conseguiu, no Conselho de Ética, o respaldo integral dos partidos governistas. O PSB e o PDT, por exemplo, estão contra ele. Como o PT está dividido, a bancada preferiu deixar os senadores livres para votar no Conselho. O petista Eduardo Suplicy (SP) já declarou que vai abrir seu voto, na contramão dos aliados do governo.

continua após a publicidade

Ao longo do processo, Renan foi também acusado de usar a máquina do Senado e funcionários para patrocinar as manobras protelatórias.