A demissão do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Alberto do Santos Cruz, causou apreensão entre deputados e senadores, pegos de surpresa com o anúncio de sua saída na tarde desta quinta-feira, 13. O general havia participado na parte da manhã de uma amistosa audiência no Senado para falar de seus atos.

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Desde que assumiu, porém, Santos Cruz era visto com ressalvas por parlamentares, que reclamavam da presença no cargo de um militar pouco afeito ao diálogo e à articulação política. Uma crítica constante era a dificuldade de conseguir a liberação de emendas parlamentares, sob responsabilidade do general.

“Se ele cuidava da articulação política do governo, é salutar a substituição”, provocou o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP). “Eu só o vi no dia da posse do presidente. Não sei qual era o papel dele.”

Apesar das reclamações, as circunstâncias que levaram à saída de Santos Cruz foi o que mais preocupou parte do Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizou a aliados que a demissão demonstra um fortalecimento da ala conhecida como “ideológica” da administração Bolsonaro, classificada por ele como mais radical e mais reativa ao Legislativo.

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Deputados ouvidos pela reportagem atribuíram a demissão a Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, que vinha fazendo críticas à condução da área de comunicação do governo, subordinada à Secretaria de Governo. A avaliação é de que os ideólogos podem até não nomear ninguém, mas deixaram claro ter força para derrubar ministros. Além de Santos Cruz, Gustavo Bebianno foi outro a cair após trombar com Carlos.

A interlocutores, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também demonstrou preocupação com os rumos da articulação política do governo, embora admita não conhecer o novo ministro, o general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira. Alcolumbre elogiou o trabalho de Santos Cruz. “O Santos Cruz é muito bom, dedicado, estava ajudando muito. Mas quem tem o poder de nomear tem o poder de exonerar. É assim que funciona.”

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O líder do bloco que reúne PL, DEM e PSC no Senado, Wellington Fagundes (PL-MT) avaliou a saída de Santos Cruz como mais um complicador na articulação política. “Vemos um governo que tem colocado à frente sempre a questão ideológica, e isso é sempre um ‘dificultador’ nas relações”, afirmou.

A oposição também criticou. “A demissão de Santos Cruz confirma que sempre que há uma queda de braço no governo, Bolsonaro escolhe seus filhos e o ideólogo Olavo de Carvalho. São cinco meses de confusões, brigas e agressões”, disse Alessandro Molon (PSB-RJ).

Sem briga

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, afirmou nesta quinta que a demissão de Santos Cruz foi resultado de “um conjunto de coisas que acontecem”. De acordo com ele, não houve desentendimento entre o presidente e o general. “Não teve briga, não teve nada. Continua amor, são amigos de 40 anos, continuam a ser amigos”, afirmou Heleno.

“O presidente, ele próprio, está usando uma metáfora bastante apropriada para a situação: é um casamento, de muito longa duração, mas chegaram à conclusão de que não era a hora de ele continuar. Porque o casamento precisava ser interrompido”, afirmou Heleno. O ministro nega que as polêmicas com Carlos e o escritor Olavo de Carvalho tenham derrubado seu colega. “É tudo especulação, não tem nada a ver”. “Isso aí não é nada que tenha sido determinante para isso aí.”

Clima

As rusgas constantes de Santos Cruz com auxiliares presidenciais e outros ministros de Estado pesaram na decisão de afastá-lo da Secretaria de Governo, segundo integrantes da administração de Jair Bolsonaro.

O temperamento do general contribuiu para que ele entrasse em atrito com representantes da equipe econômica e da ala ideológica ou anti-establishment, como o grupo se classifica. Houve disputas em torno, por exemplo, de temas do no Ministério da Educação, de cargos na Apex, e de verbas para a campanha publicitária da reforma da Previdência.

No Planalto, Santos Cruz era visto por parte dos auxiliares como de difícil trato e não fazia questão de amainar os ânimos após brigas, segundo relatos reunidos pelo Estado.

Um episódio é contado no Palácio do Planalto para ilustrar o comportamento de Santos Cruz. Na primeira reunião com o novo diretor da Secretaria de Comunicação (Secom), Fabio Wajngarten, na presença de toda a equipe, o ministro teria afirmado que preferia o antecessor, Floriano Amorim, que havia sido demitido pelo presidente Jair Bolsonaro. O clima pesou e Wajngarten nunca mais perdoou o ministro pela “recepção calorosa”. Enquanto esteve no cargo, Santos Cruz quase sempre desautorizava o colega. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.