Após ser citado na delação de Joesley Batista em sua delação na Lava Jato, na semana passada, o presidente Michel Temer fez dois pronunciamentos e deu duas entrevistas sobre as denúncias do dono da JBS. Em todas as ocasiões, ele concentrou seu esforço em questionar a qualidade da gravação (que está sendo periciada pela Polícia Federal), desconstruir a imagem do empresário e se afastar do deputado federal paranaense Rodrigo Rocha Loures. No entanto, as declarações de Temer ainda têm várias lacunas, principalmente em relação ao fato de ele ter recebido Batista sem registro, à noite, em sua residência. Há pelo menos cinco pontos mal explicados ou contraditórios.
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O áudio vazado
A defesa do presidente pediu a suspensão do processo até que se apure a autenticidade do áudio em que ele conversa com o empresário Joesley Batista. Ele admite, no entanto, que conversou com Joesley e comentou o teor do diálogo. Ele usa a própria gravação para argumentar que não quis dizer que aprovava pagamentos a Eduardo Cunha ou a compra de juízes. Em outras palavras, a gravação serve como prova para uma parte das acusações. Para avaliar a qualidade da gravação e as intenções por trás da conversa é que existe o processo de investigação. Sua suspensão não vai ajudar a resolver a questão.
Joelsey investigado
Para o presidente, é bom ouvir as pessoas. Mas Joesley não é qualquer pessoa. Ele é investigado por corrupção e qualquer político em Brasília sabe que sua empresa cresceu no embalo da intervenção dos governos Lula e Dilma. Para a Folha de S. Paulo, Temer disse que não sabia que o empresário era investigado. Mas, na conversa, Joesley explica bem sua situação judicial. Não bastasse isso, Temer aceitou uma visita sem registro, fora de sua agenda oficial – uma ilegalidade que disse ser um mau hábito para a Folha. E, convenhamos, é uma conversa que “trabalhadores, intelectuais e pessoas de diversos setores da sociedade” conseguem ter tarde da noite no Palácio do Jaburu, como disse Temer em pronunciamento.
Histórico de Joesley
Conhecendo, mesmo que durante a conversa, o histórico de investigado do empresário, o presidente disse que não acreditou na sua intenção de comprar juízes e promotores. “Ele é um conhecido falastrão”, disse Temer. O presidente, pelo visto, preferiu apostar na possível fama de falastrão de Joesley em vez de se ater ao fato de que ele é investigado. Seria seu dever avisar as autoridades competentes para apurar a veracidade do que lhe foi narrado.
Acusação de corrupção
Temer diz que não se sustenta a acusação de corrupção passiva e que Joesley foi falar com ele para se queixar sobre o fato de não estar conseguindo fechar negócios no governo. O problema aqui é a ligação entre Temer e o deputado federal Rodrigo Rocha Loures, que está com o presidente desde os tempos da vice-presidência e foi designado na conversa com o executivo da JBS como contato para conversar questões de governo. Temer sabia o que poderia haver uma negociação financeira? Ele lucraria com ela? É algo que precisa ser investigado.
Ligação com Rocha Loures
Desde o primeiro pronunciamento, Temer tem evitado falar no papel de Rocha Loures. O assunto ficou de fora dos pronunciamento e depois o presidente jogou a culpa no deputado, que deve ter sido “seduzido” pela promessa de R$ 500 mil por semana, como argumentou ao Estado de S. Paulo. À Folha, disse que sua relação com Rocha Loures é apenas “institucional”. Mas os dois se conhecem há dez anos e o deputado trabalhou no gabinete de Temer enquanto ele era vice-presidente. Rocha Loures foi membro da equipe de transição para a Presidência e assumiu na sequência a Chefia de Gabinete da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. Mais recentemente, voltou ao Congresso para ajudar nas negociações para a aprovação das reformas. O deputado foi procurado pela JBS por indicação de Temer e foi seduzido em um plano para comprometer o presidente? Só uma investigação para confirmar essa versão passada pelo presidente.