Piorou a avaliação da população em relação à Justiça brasileira. O Índice de Confiança na Justiça (ICJBrasil), apurado pela Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), registrou 5,6 pontos no terceiro trimestre, numa escala que varia entre 0 e 10. Houve um recuo de 5% ante ao segundo trimestre do ano, quando o Judiciário recebeu uma nota de 5,9 no levantamento.

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Para a coordenadora do índice, Luciana Gross Cunha, professora de Direito da FGV, a piora na avaliação está relacionada à maior exposição na mídia de casos que põem em xeque a atuação de juízes no País.

Como exemplo ela cita as recentes inspeções do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) nas cortes que já revelaram até mesmo a existência de uma consultoria no Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJ-ES) contratada para avaliar a qualidade do café servido e a censura imposta ao jornal O Estado de S. Paulo pelo TJ do Distrito Federal, que completou hoje 83 dias.

“A censura envolvendo o jornal O Estado de S. Paulo colocou o Judiciário na mídia e fez com que a população passasse a ter uma avaliação sobre o Poder, que, de forma geral, é contrária a um ato de censura aos meios de comunicação”, afirmou a coordenadora, ressaltando que essa análise ocorre não apenas em São Paulo, mas em todas as capitais do País.

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Para ela, uma das principais reclamações da população, relacionada ao tempo do Judiciário para a solução de conflitos, reflete-se no caso do jornal O Estado de S. Paulo. “Todos os dias temos notícias em relação à lentidão do Judiciário. No caso do Estado, são quase três meses de censura. Além disso, o caso também envolve a questão da imparcialidade do Judiciário, pois abrange partes bastante conhecidas”, disse.

“Acredito que a queda na avaliação do Judiciário está relacionada à maior visibilidade da Justiça em casos como os relacionados à atuação da Corregedoria do CNJ, que passou a interferir nos TJs estaduais com auditorias, para olhar não apenas o andamento dos processos, mas também casos de nepotismo e corrupção. Essa maior visibilidade do Judiciário leva a uma pior percepção.”

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Dúvidas

Segundo ela, a dúvida em relação à capacidade do Judiciário de resolver conflitos, a desconfiança sobre a honestidade e a imparcialidade do Poder e o tempo para a solução de embates foram os aspectos que mais chamaram a atenção na pesquisa do terceiro trimestre.

Na média nacional, 94,5% dos entrevistados nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Brasília e Porto Alegre responderam que o Judiciário resolve os conflitos de forma muito lenta, 70% dos consultados desconfiam da honestidade e imparcialidade do Poder e 64,5% mostraram ceticismo em relação à capacidade da Justiça de solucionar desavenças.

“A reclamação em relação ao tempo muito longo para a solução de conflitos aparece em todas as capitais. A demora é a questão que aparece como a mais importante”, explicou. “Mas a maior queda na variação de um trimestre para o outro ocorreu no que diz respeito à imparcialidade e honestidade do Judiciário. As variações em relação ao tempo e os custos para acessar o Judiciário foram menores. É como se a balança do Poder Judiciário não estivesse tão equilibrada assim como se espera.”

As capitais que apresentaram maior índice de confiança na Justiça foram Porto Alegre, Belo Horizonte, Brasília e Rio, com nota de 5,7. Salvador e São Paulo deram como nota à Justiça 5,6 e Recife, com a pior avaliação, 5,4.

São Paulo

Os paulistanos deram nota de 5,6 ao Judiciário, uma queda de 0,3 ponto na comparação com a pesquisa anterior. Para 96,3% da população da região metropolitana de São Paulo, a Justiça resolve os conflitos de forma muito lenta; 79,2% das pessoas responderam que altos custos para acessar o Judiciário são uma barreira; 61,7% afirmaram que o acesso à Justiça é difícil; 71,5% não acreditam na honestidade e imparcialidade do Judiciário e 63,3% não confiam na capacidade de o Poder solucionar conflitos.

Por outro lado, 89% procurariam a Justiça para solucionar conflitos relacionados ao direito do consumidor, 82,2% recorreriam em casos envolvendo o poder público, 71,9% iriam por direitos trabalhistas e 85,2% procurariam o Poder em casos relacionados a direito de família. “Embora a população desconfie da Justiça, ela sabe que não existe nenhuma outra forma de intermediação de conflitos que não o Judiciário”, explicou.

Para Luciana, a diferença entre as avaliações do Judiciário nas capitais reflete os dados já apurados pelo CNJ na atuação nesses tribunais. “As capitais nordestinas têm as piores avaliações nos relatórios do CNJ e isso se reflete na opinião da população. Da mesma forma, Porto Alegre é a que possui a melhor avaliação nos relatórios do CNJ e, por consequência, da população.”