Um assessor da campanha de José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo em 2012 levou o analista de sistemas Roberto Grobman ao Ministério Público para que ele apresentasse denúncias de corrupção contra o deputado Gabriel Chalita (PMDB), acusado de receber R$ 50 milhões de empresários quando era secretário paulista de Educação.
Grobman foi levado aos promotores pelo jornalista Ivo Patarra, que fazia “assessoria política” para a campanha tucana, em outubro do ano passado, quando Serra disputava o 2.º turno da eleição municipal paulistana. Patarra seguiu orientações do deputado Walter Feldman (PSDB), um dos coordenadores da campanha do PSDB. O adversário de Serra naquela ocasião era o atual prefeito Fernando Haddad (PT), que tinha o apoio de Chalita – responsável por verbalizar as mais duras críticas ao tucano em debates, depoimentos e entrevistas.
Procurado pelo jornal O Estado de S. Paulo, Patarra admitiu que, enquanto trabalhava na campanha de Serra, levou Grobman ao MP. “Eu estive lá e acompanhei os quatro depoimentos iniciais dele. De certa forma, fez parte do meu trabalho na época”, disse o jornalista. “Não vou te negar isso: a gente estava na campanha”, completou.
Grobman esteve no Ministério Público ao lado de Patarra duas vezes na disputa do 2.º turno. As informações não vieram a público durante a campanha porque os promotores não avançaram na investigação. Como deputado federal, Chalita desfruta de prerrogativa de foro, perante o Supremo Tribunal Federal.
“A gente acabou não fazendo qualquer uso eleitoral do que a gente descobriu. Os primeiros depoimentos ainda foram no período antes do 2.º turno, mas já com a decisão de que não se faria uso disso na eleição, para que a denúncia não fosse prejudicada por essa acusação de ser eleitoreira”, justificou Patarra.
O jornalista disse que levou Grobman ao MP por orientação de Feldman. O deputado confirma ter pedido que a denúncia fosse levada aos promotores.
“Essa informação nos chegou na campanha. O Chalita candidato, nós na campanha do Serra… Nós colocamos que eram denúncias que nos pareciam que deveriam ser investigadas, então eu sugeri, juntamente com o Ivo, que fizesse o encaminhamento ao Ministério Público”, declarou o tucano.
Grobman afirma ter trabalhado como assessor informal de Chalita na secretaria de Educação. Ele diz que presenciou, pelo menos seis vezes, momentos em que Chalita recebeu malas e caixas com “pilhas de notas de dinheiro”. Grobman afirma que Chalita cobrava 25% de empresas interessadas em firmar contratos com sua pasta. Patarra diz que trabalhou formalmente na campanha de Serra e afirma que o comitê tucano fez pagamentos por seus serviços de “assessoria política”. Ele declarou, no entanto, que não emitiu nenhuma nota fiscal que comprovasse o pagamento.
Em novembro de 2012, no mês seguinte à eleição, Feldman pediu reembolso à Câmara dos Deputados pela prestação de serviços da empresa Ivo Patarra Comunicações Ltda., que emitiu a nota fiscal no valor de R$ 9 mil. O deputado disse que o pagamento era por outro serviço de comunicação prestado por Patarra. “Era totalmente outro serviço. Não tinha nada a ver.” Questionado sobre a falta de pagamentos a Patarra na prestação de contas da campanha, Feldman disse: “Não sei. Não tinha nenhuma relação desse caráter”.
Resposta
O deputado Walter Feldman, um dos coordenadores da campanha de José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo em 2012, rechaçou a hipótese de que tivesse a intenção de fazer uso político da acusação para prejudicar Gabriel Chalita e seu aliado Fernando Haddad (PT).
“Nossa participação foi levar isso ao campo da investigação, não no campo político-eleitoral. Não queríamos entrar nessa linha de fazer denúncias. Não cabe isso em campanha, como o PT fez contra nós, com os chamados aloprados. Não podíamos entrar nessa”, afirmou.
Segundo o deputado, o encaminhamento de Grobman no MP foi “uma tarefa cidadã”. “O ruim seria a omissão. Não fazer significa prevaricar”, disse. Feldman disse também que o comando da campanha não soube do caso. “Não passamos absolutamente nada ao comando da campanha.”
A assessoria de imprensa de Serra disse que o tucano não tomou conhecimento do caso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.