Integrantes da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-RJ) fizeram nesta terça-feira, 7, uma diligência de reconhecimento do antigo Batalhão de Infantaria Blindada do Exército, em Barra Mansa, no sul fluminense. No local, que funcionou como centro de tortura e detenções de 1964 a 1973, hoje funcionam um circo, uma secretaria municipal e o comando da Guarda Municipal.

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Em janeiro de 1972, 15 soldados foram torturados dentro desse Batalhão, e quatro deles (Wanderlei de Oliveira, Juarez Virote, Roberto Vicente da Silva e Geomar Ribeiro da Silva) morreram. O corpo de Wanderlei, esquartejado, foi abandonado numa estrada. O cadáver de Juarez foi queimado, cortado e abandonado perto de Bananal, em São Paulo. Os militares torturadores forjaram a fuga dos dois soldados e chegaram a divulgar a fuga nas rádios locais, na tentativa de simular que ambos foram vítimas de crimes comuns.

Ao contrário da grande maioria dos casos de tortura praticados durante o governo militar, esse foi divulgado pelo Ministério do Exército e investigado. Em 22 de janeiro de 1973, oito militares e dois policiais civis foram condenados, no único caso de condenação judicial por tortura e morte ocorrida durante a ditadura. A íntegra da sentença, porém, só foi conhecida em 1997.

Embora a decisão judicial cite apenas espancamentos, os sobreviventes relatam ter sofrido choques elétricos, afogamento e simulação de fuzilamento. Os recrutas torturados eram acusados de usar ou traficar maconha nas dependências militar, mas o Inquérito Policial Militar que investigava isso foi arquivado.

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Parentes dos militares mortos participaram da visita de ontem. O pai de Juarez, Pedro Virote, de 88 anos, emocionou-se ao lembrar do caso: “Depois de morto, meu filho foi cortado em pedaços”, afirmou. “Ele demonstrava insatisfação com o que acontecia lá dentro”.

“As Forças Armadas continuam negando que não houve desvio de finalidade nas instalações militares. Não podemos nos conformar”, disse Nadine Borges, presidente da CEV-RJ, que acompanhou a diligência com Alejandra Estevez, da CNV, e Alex Martins, presidente da Comissão da Verdade de Volta Redonda.

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