A Comissão Nacional da Verdade (CNV) e o Ministério Público Federal em Goiás (MPF) investigam o desaparecimento dos corpos dos militantes de esquerda Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck Machado, metralhados em 17 de maio de 1973 e enterrados em cova clandestina, na chamada “operação limpeza” da ditadura militar. O crime ocorreu em uma fazenda de Rio Verde, no sudoeste goiano, onde os militantes do Movimento de Libertação Popular (Molipo) viviam disfarçados como trabalhadores rurais.

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Integrantes do grupo Graves Violações de Direitos Humanos da CNV e o procurador da República Wilson Rocha Assis, da Procuradoria da República em Rio Verde, já ouviram o caseiro da fazenda, Eurípedes João da Silva, de 62 anos, que recebeu ordens para retirar os corpos de Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck do casebre onde foram mortos.

Em 1980, quando familiares de Maria Augusta e jornalistas tentavam localizar os corpos em Rio Verde, os restos mortais foram desenterrados por uma equipe federal e levados para local desconhecido. Foram localizados, entretanto, dentes, pequenos fragmentos de ossos e cartuchos de projéteis de arma de fogo, entregues para perícia em 1980. Esse material está sendo procurado nos arquivos da Justiça Estadual de Goiás.

No Arquivo Nacional a CNV localizou documento do Serviço Nacional de Informações (SNI) que demonstra “preocupação” com a descoberta do paradeiro dos corpos e com as denúncias sobre o enterro clandestino e a “operação limpeza”. O documento menciona temor do SNI de vazamento da operação para a imprensa e para a Justiça.

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Nesta terça-feira, 17, foi ouvido o médico cardiologista Vicente Guerra, que integrou o corpo médico da Polícia Militar de Goiás entre 1970 e 1996. O nome dele é mencionado no documento do SNI como o de uma das pessoas que sabiam do local de sepultamento, mas Guerra negou ter participado do enterro, em 1973, e da “operação limpeza”, em 1980.

O médico contou no depoimento que foi levado à fazenda para analisar a cena, cerca de 6 horas após o crime, que classificou de “barbárie”. Segundo ele, militares à paisana, provavelmente do Exército, comandaram o trabalho pericial. Segundo ele, foi constatado o uso de armamento pesado.

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Maria Augusta era ativista no Molipo, tento participado do sequestro do Boeing 707 da Varig, desviado para Havana (Cuba) em novembro de 1969, entre outras ações que a tornaram procurada pela repressão. Em Cuba, como mostra o livro Luta Armada / ALN Molipo – As Quatro Mortes de Maria Augusta Thomaz (2012), do jornalista Renato Dias, ela se aperfeiçoou como guerrilheira e depois voltou à ativa no Brasil.